Da Redação
Fotos: André Wanderley
Amizade e música. Duas forças capazes de transformar o mundo. Quando reunidas, são imbatíveis e podem gerar belezas como Os Paralamas do Sucesso, uma das mais importantes bandas brasileiras de todos os tempos, que se mantêm há mais de 40 anos tendo como base esses dois pilares fundamentais. Em homenagem a essa trajetória, nasce ‘VITAL, o musical dos Paralamas’, um espetáculo que é também uma ode à amizade de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, o trio que permanece à frente da banda nessas quatro décadas. O musical, que estreou no Rio de Janeiro, desembarca em Porto Alegre e depois Brasília, onde os integrantes da banda se conheceram, e marca, ainda, o retorno de grandes apresentações no Teatro Nacional, que passou quase uma década fechado para reforma. Serão quatro sessões na capital federal, de 28 a 30 de março, de sexta a domingo, e os ingressos já estão à venda pelo Sympla.
Idealizado pelo produtor Gustavo Nunes (Turbilhão de Ideias) e por Marcelo Pires (escritor e diretor da Ideia da Silva), o musical tem direção artística de Pedro Brício, texto de Patrícia Andrade, direção musical e arranjos de Daniel Rocha e o projeto é produzido através da Lei de incentivo à Cultura, apresentado por Ministério da Cultura e Caixa Vida e Previdência.
‘VITAL, o musical dos Paralamas é ainda uma homenagem à relação do trio com José Fortes, empresário deles desde o início e uma espécie de quarto Paralama. “Esta é uma história sobre amizade, sobre a longevidade de uma banda que começa quando os integrantes eram adolescentes e está aí até hoje. E também sobre memória, seja ela afetiva ou seletiva, que toca a cada um de diferentes formas. É um espetáculo essencialmente emocional”, explica Patrícia Andrade. “A gente acompanha essa jornada musical e afetiva de quatro amigos e as transformações não só artísticas, mas também na vida de cada um e como isso influencia na criação deles”, acrescenta Pedro Brício.
Os Paralamas serão interpretados por: Rodrigo Salva (Herbert Vianna), Franco Kuster (João Barone) e Gabriel Manita (Bi Ribeiro). Nando Motta é alternante no papel de Herbert Vianna. Já Hamilton Dias viverá o empresário José Fortes. O elenco é composto ainda por: Barbara Ferr, Herberth Vital, Maria Vitória Rodrigues, Ivanna Domenyco, Pedro Balu e Rodrigo Vechi. Todos foram selecionados através de audições, que teve mais de 600 candidatos, vindos de vários lugares do país.
“O espetáculo conta com o aval da banda, que está acompanhando desde a ideia inicial, passando pela criação do texto e a seleção do elenco principal. Levar aos palcos um espetáculo com esse teor, é, sobretudo, valorizar a nossa memória cultural. Optamos por focar em conteúdo brasileiro, valorizar nossas raízes, ao invés de encenar musicais estrangeiros”, sinaliza Gustavo Nunes.
O espetáculo está concorrendo a um dos principais prêmios do mercado , com 4 indicações ao Prêmio APTR: Cenografia para André Cortez, Figurino para Karen Brusttolin , Música para Daniel Rocha e Melhor Produção em Teatro Musical para Turbilhão de Ideias e uma Indicação ao Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Cenário para André Cortez.
A montagem
O musical passeia pelas quatro décadas da banda, mostrando desde os primórdios, a amizade entre os integrantes, que se conheceram em Brasília, os primeiros shows amadores, a primeira apresentação no Circo Voador (abrindo um show do Lulu Santos), a participação na 1ª edição do Rock in Rio, que ajudou a catapultar o sucesso da banda. Passa pelo estouro nacional, por grandes momentos vividos pelos Paralamas, mas também traz instantes importantes da vida do trio, como o acidente sofrido por Herbert Vianna, em 2001.
“A música tem o poder de transformar, unir e inspirar, assim como a amizade verdadeira. Patrocinar ‘VITAL, o musical dos Paralamas’ é mais do que uma homenagem a uma das maiores bandas do Brasil, é também um tributo à longevidade de uma amizade que se mantém forte por mais de quatro décadas. Para a CAIXA Vida e Previdência, apoiar iniciativas como essa, que celebram nossa cultura e nosso legado, é reafirmar o compromisso com a valorização do que é genuinamente brasileiro e com o futuro das gerações que crescerão conhecendo essa história”, comenta Elena Korpusenko, Superintendente de Marketing da CAIXA Vida e Previdência.
Patrícia Andrade criou um fluxo narrativo não cronológico, com idas e vindas constantes. “Os tempos se intercalam de acordo com a memória, que guia a história. Presente e passado se misturam o tempo todo”, explica a autora. Ela, o diretor Pedro Brício e a equipe trocaram muitas ideias, mesmo após o início dos ensaios, e algumas cenas e canções foram sendo incorporadas à versão final. Pedro afirma que o musical traz também a perspectiva narrativa da memória do Herbert, sobretudo no hospital, então algumas passagens deixam no ar se são de fato lembranças ou delírios.
O espetáculo tem uma narração coletiva, é contado sob a perspectiva de vários personagens. “Não tem ar nostálgico, mas a memória sempre traz um momento dramático, ela é uma importante perspectiva para contar essa história”, explica Pedro, que acrescenta: “a peça tem ainda essa afirmação da força do Herbert, da recuperação dele, da fé dele na vida e nessa recuperação extraordinária que ele teve, voltando a tocar. Então, é também um espetáculo sobre fé, recuperação, resiliência e sobre acreditar no futuro”.
A composição dos atores não busca imitar ou copiar os personagens reais. “Como a gente está fazendo um espetáculo biográfico de pessoas que estão vivas, que estão aí, nosso objetivo na construção dos personagens não foi mimetizar o Herbert, o Bi, o Barone e o Zé, mas trazer a energia deles, quase como se eles fossem arquétipos”, explica.
A ficha técnica do musical traz ainda grandes nomes como André Cortez (cenografia), Karen Brusttolin (figurinos), Paulo Cesar Medeiros (iluminação), Marcia Rubin (coreografia), João Paulo Pereira (designer de som) e Beto Carramanhos (visagismo).
A cenografia concebida por André Cortez traz plataformas que compõem vários quadros em perspectiva, que dão a possibilidade de múltiplos planos de cena, vários cenários e locações ao mesmo tempo. É um cenário abstrato, mas que permite uma multiplicidade de espaços. “Esse cenário tem uma dinâmica muito grande. O espetáculo tem essa pegada vibrante e segue também um pouco o estilo cinematográfico da Patrícia. Tem uma coexistência de diferentes planos de tempo e espaço. É uma possibilidade teatral que estamos explorando muito”, revela.
Os figurinos de Karen Brusttolin traçam um painel de todas as épocas pelos quais os Paralamas passaram, sobretudo os anos 80, 90 e 2000. Porém, como os tempos cronológicos se intercalam, eles não necessariamente representam o período exato no qual o fato aconteceu, eles se misturam nas diferentes épocas. Os figurinos se atêm mais aos fatos emocionais e à narrativa, do que à cronologia.
A música
Pensar em Paralamas é falar de música e, como não poderia deixar de ser, a obra monumental dessa banda é uma estrela do espetáculo, que faz um passeio pelos grandes clássicos e também apresenta canções menos conhecidas, sempre a serviço da dramaturgia. O roteiro traz pérolas como ‘Lanterna dos Afogados’, ‘Busca Vida’, ‘Óculos’, ‘Alagados’, ‘Tendo a lua’, ‘Caleidoscópio’, ‘Romance Ideal’ e ‘Meu erro’, entre tantas outras. Como explica Patrícia Andrade, a construção do texto foi encaixando as músicas nos momentos em que os personagens estão vivendo, mas também as canções entram para contar a história, com uma função narrativa.
A seleção do roteiro foi um processo duro, devido à imensa qualidade da obra dos Paralamas. “O mais difícil na escolha das músicas foi deixar algumas de fora. Confesso que foi sofrido. Os Paralamas é uma coming of age story emocional e musical. Fica muito claro o amadurecimento da banda com o passar dos anos. De dentro para fora”, vibra Patrícia.
O musical percorre toda a carreira da banda, sendo um importante documento sobre a própria história do rock brasileiro, que tem nos Paralamas um dos seus maiores expoentes. “Contar a trajetória dos Paralamas é narrar a história dos últimos anos do país e de quem cresceu e amadureceu com a banda”, diz Marcelo Pires. “A banda só sobrevive, só está aí há 40 anos por se renovar e por dialogar com a realidade e com o momento que a gente está vivendo, tanto musicalmente como nas letras”, acrescenta Pedro Brício.
Lidar com a obra dos Paralamas é um deleite, mas também um grande desafio para o diretor musical, Daniel Rocha. Ele criou os arranjos tendo a narrativa do espetáculo como base e se preocupou em ajudar a contar essa história. O elenco é misto, então, em alguns momentos, foi preciso buscar tonalidades para harmonizar essas vozes. “Tive a preocupação de respeitar o material original, porque é uma obra muito importante, uma referência. Os Paralamas são uma escola, têm uma linguagem que vai muito além do rock, trouxeram uma identidade real do rock brasileiro. Tem que respeitar isso, com certeza. Mas os arranjos acabam ficando diferentes. Primeiro, porque é uma outra formação, além disso é uma outra linguagem, é teatro musical, não é show”, explica Daniel.
O diretor Pedro Brício afirma que o musical tem o espírito de um show de rock, mas sem jamais perder de vista que é um espetáculo teatral. “Ele é muito solar, tem a energia dos Paralamas, a alegria. A primeira parte tem muito humor também, a leveza da juventude deles. Mas é também um espetáculo biográfico, a história deles é contada”.
Todos os atores tocam instrumentos durante o musical, especialmente nas cenas que recriam apresentações originais dos Paralamas. Eles estarão acompanhados por uma banda formada por Eveline Garcia (Teclado I e Regência), Anne Amberget (Teclado II), Rafael Maia (Bateria), Raul D’Oliveira (baixo) e Raul Colombini (guitarra).
Em alguns números, só o trio de atores que vive os personagens principais tocam. Em outros, são acompanhados pela banda. Em certas cenas, todos os atores tocam, como em ‘Alagados’, que teve um arranjo concebido pelo diretor musical com vários instrumentos de percussão, como se uma escola de samba encontrasse a obra dos Paralamas. Em ‘Vamos Bater Lata’, todos tocam instrumentos feitos com metais. Isso reafirma a diversidade rítmica dos Paralamas. “Eles são como um epicentro da cultura da América Latina. Isso está muito presente nas músicas deles, nos arranjos, nos timbres de guitarra, nas combinações rítmicas entre o baixo, a guitarra e a bateria. O próprio conceito de guitarra havaiana e tudo mais foi misturado com as guitarradas do norte, a sonoridade do Dodô e Osmar”, exalta Daniel.
O diretor musical revela ainda que, estudando a obra dos Paralamas se debruçou sobre o tamborzão, os ritmos de matriz africana, o metal que envolve o funk, porque essa fusão sonora é uma das características musicais mais ricas da banda “O que mais me atrai nos Paralamas são as pesquisas que eles realizam e as misturas de ritmos que eles conseguiram fazer de um jeito que é muito orgânico. Hoje em dia, a gente ouve e acha isso comum, normal, mas eles foram pioneiros, lideraram um movimento brasileiro de música. Na época, foi muito disruptivo”, enaltece.
Dica:
“VITAL, o musical dos Paralamas”
De 28 a 30 de março. Sexta-feira às 20h; Sábado às 16h e 20h: Domingo às 19h
Local: Sala Martins Pena |Teatro Nacional de Brasília
Ingressos: de R$ 21 a R$ 125 (meia-entrada) e R$ 42 a R$ 250 (inteira)
Ponto de venda: https://bileto.sympla.com.br/event/103796/d/306362
Classificação Indicativa: 12 anos
Acessibilidade: haverá sessão com libras e audiodescrição
Instagram: @teatronacional.claudiosantoro