Casa Albuquerque Galeria de Arte recebe a primeira exposição individual de Pedro Motta

Da Redação
Foto: Divulgação

Amarelo cálido que arde em estado febril de alucinações. Vastidão da flor amarela varrida pelo mar em ouro da paisagem. Ainda que tão frágeis e por um período tão breve, flamejam na aspereza do ambiente castigado. Árvores da resistência, florestas de uma árvore só. Uma nota só é a primeira exposição individual de Pedro Motta, que acontece de 23 de setembro a 30 de outubro, na Casa Albuquerque Galeria de Arte, no Lago Sul, em Brasília. Em Ipês, o artista apresenta cerca de 40 trabalhos fotográficos (impressão de tinta mineral em papel de algodão, terra e folha de ouro, 45 x 45 cm). A série abre espaço para experimentações e reforça a proposta de Pedro de recriar paisagens por meio de manipulações digitais e aproximações com o campo escultórico.

Os Ipês são oriundos de outra série, Espaço confinado e seguem a mesma metodologia de adição de pequenas quantidades de terra dentro da moldura, como parte da construção da imagem final. Ao serem acrescidas de terra e porções de folhas de ouro, as imagens vão além do plano bidimensional.

Pode-se pensar em uma dupla relação entre espaço e tempo, já que as fotografias foram tomadas de uma dada região e a terra retirada de outro sítio. São estabelecidos deslocamentos atemporais entre fotografia e matéria. Da união desses dois elementos, surge a fotoescultura denominada Ipê.

Como escreveu Didi-Huberman, a imagem arde. “Arde pelo desejo que a anima, pela intencionalidade que a estrutura, pela enunciação, inclusive a urgência que manifesta […]” (Didi-Huberman, 2012, p. 216). Os ipês amarelos de Pedro Motta ardem. Ardem pela audácia de resplandecerem em uma área ambiental pulverizada, ardem como em transe, entre a lucidez e o delírio, provenientes de um tempo oculto em que a natureza não deixa de demonstrar sua força e beleza.

A obra remete ao processo de produção do artista Peter Drehe (1932-2020) que pintou mais de 5.000 quadros de um mesmo copo de água durante anos. A exposição parte dessa mesma premissa, ao mostrar uma imagem que se repete, ano após ano, em busca de uma taxonomia. Em cada curva da estrada, os ipês amarelos demarcam seus territórios, montam uma paisagem de uma só espécie, uma composição de uma nota só.

Pedro Motta (Belo Horizonte, 1977) graduou-se em desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2002. Iniciou sua atividade artística pesquisando as estreitas relações entre cidade e indivíduo. Entre suas principais exposições individuais destacam-se: Uma nota só, Casa Albuquerque Galeria de Arte, Brasilia (2021), Jardim Impostor, Galeria Silvia Cintra + BOX 4, Rio de Janeiro (2019), Estado da Natureza, Centro Cultural Fiesp, São Paulo (2019), Jardim do ócio, Galeria Luisa Strina (São Paulo, 2018), Naufrágio calado, Bendana-Pinel Art Contemparain (Paris, 2018), Estado da natureza, CâmeraSete (Belo Horizonte, 2016), Natureza das coisas, 9º BES Photo, Museu Coleção Berardo (Lisboa, 2013), Reacción natural, Centro de Exposiciones Subte (Montevidéu, 2011), e no 27º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte/Bolsa Pampulha (Belo Horizonte, 2004). Também esteve em coletivas como Past/Future/Present, Phoenix Art Museum (2017), Feito poeira ao vento – fotografia na Coleção MAR, Museu de Arte do Rio (2017), Les imaginaires d’un monde intranquille, Centre d’Art Contemporain de Meymac (2017); Soulèvements, com curadoria de Georges Didi-Huberman, Jeu de Paume (Paris, 2016), TRIO Bienal, Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ, 2015), 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil – Pano- ramas do Sul (São Paulo, 2013); 1ª Bienal de Fotografia do Museu de Arte Assis Chateaubriand (Masp, São Paulo, 2013); Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP, 2011); Peso y Levedad, Photoespaña, Instituto Cervantes (Madri, 2011); 2ª Bucharest Biennale (2006); e Fotografia Contemporânea Brasileira, Neue Berliner (2006).

Pedro foi contemplado com o 6º Prêmio Marcantonio Vilaça (2017), a Bolsa ICCo/SP-Arte (2015), a residência Flora ars+natura (2013), o 9º BES Photo Museu Coleção Berardo (2011), o Prêmio Ibram de Arte Contemporânea (2011) e a Residency Unlimited/Nova York (2011).

Seus trabalhos integram acervos de instituições como MAM-SP, MAM-RJ, MAM-BA, Masp, Sesc-SP, Museu de arte do Rio (MAR-RJ), Coleção Museu Berardo (Lisboa), Centro de Fotografia de La Intendência de Montevideo e Itaú Cultural.

Em 2010, lançou o livro Temprano (Funarte), uma retrospectiva de mais de dez anos de percurso.  Em 2018, lançou o livro Natureza das coisas, Editora UBU, organizado por Rodrigo Moura, com textos críticos de Ricardo Sardenberg, Eduardo de Jesus, Agnaldo Farias, Ana Luisa Lima, Luisa Duarte, Nuno Ramos, Kátia Lombardi, Cauê Alves e José Roca.

As paisagens e espaços naturais e rurais da região do Campo das Vertentes (MG) são o foco das pesquisas mais recentes do artista, que vive em São João del Rei.

Dica:
Uma nota só – Pedro Motta
De 23 de setembro a 30 de outubro. De segunda à sexta, das 10h às 19h. Sábado, das 10h às 13h
Visitas mediadas para grupos de até 10 pessoas:  quintas-feiras, às 17 horas. Agendamento prévio para visitas pelo telefone 99885 1030
Local: Casa Albuquerque Galeria de Arte (SHIS QI 05 bl. C lj. 09 – sobreloja – CL – Lago Sul)
Tel: 99885-1030
Instagram:  @casa_albuquerque