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CCBB traz para Brasília o espetáculo Leão Rosário

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Da Redação
Foto: Pablo Bernardo

Leão Rosário estreia no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília dia 14 de novembro após temporadas bem-sucedidas de público e de crítica em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Em Brasília, a peça fica em cartaz até 8 de dezembro com sessões de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 18h.

O espetáculo é um solo para ator, vozes e objetos inspirado em “Rei Lear”, obra prima da maturidade de Shakespeare, e em Arthur Bispo do Rosário, artista visual que construiu suas obras trilhando os caminhos da arte e da loucura, sendo reconhecido nacional e internacionalmente.

A trama, trazida para a ancestralidade africana e ambientada na costa Atlântica de uma África atemporal, conta a história de um velho rei que, ao abdicar e dividir seu vasto reino entre as filhas, toma uma decisão insensata que leva a consequências trágicas.

“Rei Lear” reflete, entre outros aspectos, sobre o envelhecimento. Ao ser associada à personalidade de Bispo do Rosário, a peça propõe uma reflexão sobre as questões dos mais velhos na nossa sociedade, a nossa memória africana, as heranças simbólicas e os limites da sanidade.

O trabalho comemora os 50 anos de carreira do ator, diretor, escritor, roteirista e produtor Adyr Assumpção, que estreou nos palcos no papel de Puck, personagem de “Sonho de um Noite de Verão”, de William Shakespeare.

Desta vez, Assumpção retoma às próprias origens ao encenar Leão Rosário: “Ao longo de toda a minha carreira flertei muito com a obra de Shakespeare. Então, é muito representativo para mim celebrar 50 anos de atuação com uma obra que teve como inspiração um de seus textos mais emblemáticos. O espírito shakespeariano está presente, ao lado de diversas outras referências importantes para a minha trajetória como artista”, revela.

E, para dirigi-lo, foi convidado Eduardo Moreira, fundador do Grupo Galpão. “O encontro com Adyr a partir de sua adaptação de Shakespeare trazida para a ancestralidade africana foi um presente e um chamado, uma espécie de dádiva que o teatro nos dá e que nos permite mergulhar num universo tão vasto e profundo”, comenta o diretor.

Como forma de democratizar o acesso às apresentações, o espetáculo disponibiliza 1024 ingressos gratuitos a Organizações Sociais e Escolas, que podem fazer o agendamento em: conecta.mediato.art.br/evento/leão-rosário. O espetáculo conta com patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal Rouanet de Incentivo à Cultura.

A trama do espetáculo

Em uma África atemporal, no Reino de Oió, Ifé e Benguela banhado pelo Oceano Atlântico, um velho rei, Leão Rosário, desejoso de se retirar de suas obrigações, decide repartir seu vasto império entre suas três filhas e deixar a maior parte do território para aquela que mais o ama. As mais velhas, Makeda e Akosua, com adulações e falsas afirmações, dizem que o amam acima de tudo. Agotimé, a mais nova e verdadeira, surpreende afirmando que seu amor por ele é do tamanho de seu dever.

O Rei se enfurece com a resposta, deserda e expulsa Agotimé, que parte e se casa com o Rei das Florestas. Leão Rosário divide o reino entre as duas outras filhas, com a condição de morar, em ciclos mensais, com cada uma das duas. No caminho de Leão Rosário surgem Sundiata, que passa a servi-lo, e Sotigui, o griot que procura acordar a consciência do rei. Ao contrário do que pensava o Rosário, Makeda trama para obter o poder total e, junto com Akosua, acaba por abandoná-lo à própria sorte.

Leão Rosário, sofrendo por suas escolhas, sem a força e a razão que outrora o fizeram um grande rei, perambula atormentado por suas terras enquanto invoca os elementos da natureza e conversa com vozes e objetos.

O encontro entre Bispo do Rosário e Shakespeare na encruzilhada criativa de Adyr Assumpção: comentários do dramaturgo e ator sobre a transposição da obra para a África e as diásporas negras

“Seguimos o caminho de dramaturgos negros como o nigeriano Wole Soyinka, Aimé Césaire da Martinica e do brasileiro Abdias Nascimento, que se inspiraram na obra do bardo inglês para contar histórias de suas regiões, religiões e costumes. Também nos inspira o teatro de Peter Brook, que em sua universalidade dialoga com as formas africanas de contar histórias. Umas das personagens da peça chama-se Sotigui, em referência e homenagem ao Griot Sotigui Kouyaté, parceiro do diretor inglês na aventura shakespeariana. As demais personagens da peça — as três filhas Makeda, Akosua, Agotimé, e o amigo Sundiata, têm os nomes de africanos de diversas épocas da história, que emprestam suas personalidades para essa transposição.”

“Para muitos, William Shakespeare inventou, nas artes, o homem moderno. E a característica principal desta invenção é a capacidade de nos transformarmos. Até a um herói trágico é dada a possibilidade de contrariar o destino. Tal maleabilidade se estende para o conjunto de sua obra. Nessa encruzilhada, o reencontro com Bispo do Rosário, o artista, o homem preto, aprisionado, obstinado no cumprimento de sua missão de reconstruir o mundo, a conta brilhante, brilhante de ouro e prata, do rosário dos homens pretos do Brasil. As vozes de dentro e as de fora trespassando nosso coração”, acrescenta Assumpção sobre o encontro entre Shakespeare e Bispo do Rosário.

Equipe de profissionais pretos e pretas

Completam a ficha técnica importantes artistas negros do Brasil na atualidade, a exemplo de Jorge dos Anjos, artista plástico mineiro que criou o tapete cênico, o artista e mestre bambuzeiro Lúcio Ventania, que confeccionou os adereços de cena sendo esculturas femininas, objetos e bonecas, além do elenco de vozes composto pelas jovens atrizes Michelle Sá, Elisa de Sena, Iasmim Alice e pelo quilombola Reibatuque. Soma-se o autor da trilha sonora, criada exclusivamente para o espetáculo, o músico Heberte Almeida.

O olhar de quem assistiu

“É uma montagem cuidadosa e bela. Luz, cenário, música e figurinos estão lá como obras de arte. Assumpção nos recebe sobre um tapete de formas geométricas com cores fortes que lembram as vestimentas africanas. Leão Rosário está vestido com um manto bordado com nomes: Aleijadinho, Mestre Didi, Desmond Tutu e muitos outros. Seu reino é de Oió, Ifé e Benguela, que decide dividir com as filhas. Assumpção, de maneira irretocável, faz a passagem da razão para a desrazão. É a luta do louco para não perder a lucidez. Quanto mais banido e vilipendiado ele é, mais seus atos e pensamentos tornam-se mais lúcidos. No exílio forçado, veste então um manto verde, com flâmulas de países africanos. Ele integra-se à natureza e à sua velha África. Só resta agradecer a Adyr Assumpção e à numerosa e talentosa equipe que produziu essa preciosa obra, tecida de tantas artes.” Geraldo Martins, psicanalista

Para a crítica teatral, Dinorah Carmo, Leão Rosário é uma das encenações mais sérias e admiráveis que já viu. “O ator Adyr Assumpção sozinho num palco despojado, com apenas alguns elementos cênicos, prende o espectador numa interpretação perfeita de sua personagem-título, Leão Rosário. Um trabalho desafiante, pois interpretar monólogo é arte difícil. E, neste, os gestos, olhares, pausas e silêncios foram criados com a competência, sentimento e técnica que só um ator com a sensibilidade e maturidade artística como a de Adyr Assumpção é capaz de compor, criar e representar. Nota dez para ele!”.

Adyr Assumpção é ator, diretor, escritor, roteirista e produtor, graduado em Artes Cênicas pela UFMG e Mestre em Artes pela UNICAMP. Iniciou sua carreira há 50 anos, como ator em “Sonho de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare. Seu mais recente trabalho como diretor e dramaturgo foi o espetáculo “Sortilégio: Mistério Negro “, na abertura do quarto ato da exposição “Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra”, do Museu Inhotim. O filme “Coro do Te- Ato” (2023) registra sua participação como ator do Coro do Teatro Oficina do diretor Zé Celso Martinez. Adyr criou e integrou o Grupo de Teatro Kuzala durante uma década. Atuou, dirigiu e produziu mais de uma centena de produções, incluindo cinema, televisão e artes cênicas. Foi curador e diretor artístico do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, o FAN. Atualmente pode ser visto no filme “O Silêncio das Ostras”, com direção de Marcos Pimentel estreou em outubro de 2024 no Festival do Rio.

Acessibilidade: A ação “Vem pro CCBB” conta com uma van que leva o público, gratuitamente, para o CCBB Brasília. A iniciativa reforça o compromisso com a democratização do acesso e a experiência cultural dos visitantes.  A van fica estacionada próxima ao ponto de ônibus da Biblioteca Nacional. O acesso é gratuito, mediante retirada de ingresso, no site, na bilheteria do CCBB ou ainda pelo QR Code da van. Lembrando que o ingresso garante o lugar na van, que está sujeita à lotação, mas a ausência de ingresso não impede sua utilização. Uma pesquisa de satisfação do usuário pode ser respondida pelo QR Code que consta do vídeo de divulgação exibido no interior do veículo.Horários da Van:  Biblioteca Nacional – CCBB: 12h, 14h, 16h, 18h e 20h; CCBB – Biblioteca Nacional: 13h, 15h, 17h, 19h e 21h

Dica:
Leão Rosário
De 14 de novembro a 8 de dezembro. Quinta, sexta, sábado às 20h, domingo às 18h
Acessibilidade: as sessões de domingo, dia 24/11, e 1º e 8/12, contarão com audiodescrição e interpretação em Libras
Local: Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Ingresso: R$ 30 (inteira), e R$ 15
Pontos de venda: www.bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Mais informações: 3108-7600
Instagram: @ccbbbrasilia

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