Por Jak Spies, da Agência Brasília
Fotos: Divulgação
Brasília tem zebrinhas que não fazem parte da fauna do Zoológico. O ônibus compacto, oficialmente nomeado de Transporte da Vizinhança, circula na capital desde 1981 e é popularmente conhecido como zebrinha por causa das listras que cruzam sua lataria.
Os modelos originais tinham cores que contrastavam com a dos outros ônibus do início da capital. Primeiramente em laranja e depois em vermelho, os micro-ônibus listrados com uma dessas cores e com o branco circularam até 2012.
A partir dessa data, as cores mudaram para verde e amarelo, quando a nova licitação do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF determinou a colorização dos veículos de acordo com cada área de operação. Contudo, desde 2021 os ônibus circulam nas cores originais.
“A ideia era criar algo que se destacasse no cinza de Brasília, por isso o laranja. Antigamente todos os ônibus eram cinza ou brancos”, explica o antigo diretor da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) que comandou a pasta à época, Adonis Ribeiro Gonçalves.
A Agência Brasília leva você de carona para o passado onde esse transporte era bem comum na capital, em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF, que utiliza a sigla em inglês de Throwback thursday (na tradução livre, quinta-feira de retrocesso) para relembrar fatos marcantes da nossa cidade.
O nascimento da linha
O Serviço Especial de Vizinhança foi um sistema de transporte público lançado em 1980, começando a operar em 30 de abril de 1981 por meio da portaria nº 61, de 10/7/1980, que ainda está em vigor.
Considerado um transporte complementar, o ônibus diferenciado tinha como objetivo ligar as vias internas da Asa Sul, Asa Norte (W1 e L1) e Lago Sul aos locais de trabalho da Esplanada dos Ministérios e setores de Autarquias, Comerciais e Bancários da capital federal.
Era uma opção para os brasilienses que moravam ou trabalhavam nessas áreas e também um incentivo para utilizarem as linhas públicas. A iniciativa foi do ex-governador Aimé Lamaison e do secretário de Serviços Públicos, José Geraldo Maciel. O lançamento contou com uma campanha para que o brasiliense deixasse o carro em casa e utilizasse o transporte público para ir ao trabalho.
A escolha do nome do novo ônibus veio de um concurso popular. Durante as décadas de 1980 e 1990, os zebrinhas foram bastante utilizados, apesar de sua tarifa ser quase o dobro da cobrada nos ônibus convencionais. Na época, o serviço contava com 14 linhas e 83 carros. Entre 15 e 30 mil passageiros utilizavam mensalmente o zebrinha, que tinha passagens a R$ 3,20 em meados de 2008.
Além da tarifa, os zebrinhas também se diferenciavam por não ter cobrador, então o próprio motorista recebia o dinheiro das passagens. Os micro-ônibus também não circulavam aos sábados, domingos e feriados.
Nostalgia
O zebrinha foi o primeiro transporte público que a jornalista Mariana Ceratti usou quando, após morar em Belo Horizonte (MG), voltou para Brasília, em 1992. Com 11 anos na época, ela pegava o micro-ônibus para fazer o trecho da 104 Norte, onde ficava a Escola Parque que frequentava, até a 314 Norte, onde morava com os pais.
“E eu adorava pegar a zebrinha porque era um ônibus pequenininho, ele tinha um charme por ser vermelho e ter aquelas listrinhas. Acho que para uma criança tinha um toque especial, na época. E eu me sentia bem segura pelo fato de ter só uma entrada e saída – e meus pais tinham muita confiança também de me deixar fazer esse trajeto sozinha, sempre foi muito tranquilo”, conta Mariana. Ela lembra que usava ônibus quando morava em Belo Horizonte, mas não diferenciados quanto o zebrinha.
O publicitário Mauricio de Carvalho Sampaio também se recorda de andar de zebrinha lá pelos idos de 1986, quando tinha por volta de 20 anos e morava na 215 Sul. Ele utilizava o transporte para ir à escola, que ficava na UDF, ou, às vezes, para ir ao Conjunto Nacional. Quando morou na Octogonal, também ia de zebrinha para ir trabalhar na Funai, que na época ficava no comecinho da W3 Sul.
“Uma história engraçada é que o zebrinha era mais baixo. Então, uma vez eu entrei e não me toquei que sempre fui alto e dei uma batida com a cabeça no teto que quase caí de volta. É porque ele era menor que os outros, os primeiros chegavam a ser até menores que o micro-ônibus, mais especial para percursos mais curtos”, detalha.
Mauricio acrescenta sobre o diferencial do transporte: “É a praticidade, ele te deixava mais perto dos locais, circulava mais tranquilo, tinha menos gente que usava. Então a viagem era mais fluida, mais rápida. Se ele voltasse a circular entre as quadras, num espaço mais restrito assim, seria interessante, como um resgate do projeto original.”
A volta dos zebrinhas
Os zebrinhas voltaram a circular em 2021 com uma faixa branca até altura dos faróis e, na parte superior, a cor vermelha com algumas listras brancas. Segundo o ex-diretor da Semob, Adonis Ribeiro, atualmente a maior parte das linhas sumiram, por não serem consideradas rentáveis.
“O intuito desse tipo de transporte é fazer trajetos onde um ônibus convencional não passa, pequenos trajetos. É um serviço complementar que tem um atendimento diferenciado. Por isso, estamos passando por uma reformulação e criando um sistema de integração para maximizar os trajetos”, detalha.
Com a licitação do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF (2011), o Serviço de Transporte Vizinhança foi dividido dentro das áreas operacionais, sendo que a Piracicabana assumiu nove linhas, e a Pioneira, duas. Hoje, o serviço é executado no Plano Piloto, Sudoeste, Cruzeiro e SIA.
Há previsão de que os ônibus zebrinhas comecem a circular em Águas Claras, como ocorre no Plano Piloto. “A principal diferença do serviço hoje é a integração, por meio dos cartões da bilhetagem automática”, explica o subsecretário de Operações da Semob, Márcio Antônio de Jesus.
Segundo o subsecretário, a característica do serviço continua a mesma, mas, com a implantação do sistema eletrônico dos cartões de transporte, o serviço passou a oferecer outras vantagens e, por isso, é bastante utilizado. “O zebrinha é um veículo ágil, que percorre as vias internas das cidades, facilitando o deslocamento das pessoas, que podem deixar seus carros em casa e utilizar o transporte público coletivo”, afirma.
Antes, as pessoas se deslocavam principalmente até o Setor de Autarquias ou a Esplanada, mas, com a bilhetagem automática, o zebrinha passou a ser utilizado também por quem faze integração com o metrô ou linhas de longas distâncias, na Rodoviária do Plano Piloto, no Terminal da Asa Sul ou nas estações.