Capivaras e sociedade: como manter o convívio saudável?

Da Agência Brasília
Foto: Divulgação/Brasília Ambiental

Elas já viraram paisagem constante. Quase um símbolo da cidade. Estão em todos os lugares, cada vez em maior número, e gostam, principalmente, de estarem às margens do Lago Paranoá. São as capivaras. Preocupados com essa “invasão” desses grandes roedores a ambientes urbanos, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) estão desenvolvendo ações para monitorá-los.

A capivara é uma espécie de mamífero roedor da família Caviidae e subfamília Hydrochoeridae. Está incluída no mesmo grupo de roedores no qual se classificam as pacas, cutias, os preás e os porquinhos-da-índia. Extremamente adaptável, pode ocorrer em ambientes altamente alterados pelo ser humano. É o maior roedor do mundo, pesando até 91 kg e medindo até 1,2 m de comprimento e 60 cm de altura

No Brasília Ambiental, foi montado um grupo de trabalho focado na elaboração de métodos para construir barreiras que impeçam ou reduzam os acessos das capivaras aos locais mais utilizados pelas pessoas que frequentam a orla, bem como às ruas e avenidas do Lago Sul e do Lago Norte. “A medida visa dar segurança às capivaras e evitar desconforto para a população”, explica o biólogo Thiago Silvestre, da Diretoria de Conservação e Recursos Hídricos do Instituto e coordenador do grupo de trabalho.

Em parceria com a Secretaria de Saúde (SES) e com a ajuda da Diretoria de Vigilância Ambiental, entre 18 de novembro e 12 de dezembro do ano passado, o grupo manteve um questionário on-line no site do instituto, para que a população colaborasse com informações sobre o avistamento de capivaras na orla e nas regiões urbanas adjacentes.

Segundo Thiago Silvestre, a pesquisa foi um sucesso. A meta eram 100 respostas, e foram obtidas 206. A consulta revelou, entre outras questões, que a maioria das pessoas sempre vê agrupamentos de mais de dez capivaras. A maior parte desses mamíferos, que chegam a 91 quilos, foi observada na orla ou no gramado do lago. A enquete revelou ainda que a população está dividida entres os aspectos positivos e negativos da presença desses animais.

“Vamos selecionar alguns tipos de barreiras e encaminhar para o Ministério Público. O MP vai fazer uma análise das nossas sugestões, retornar para o órgão ambiental, e iremos a campo para fazer os testes. Baseado nos resultados desses testes, será verificado qual barreira a ser implantada”, explica Thiago Silvestre.

O secretário-geral do Brasília Ambiental, Thúlio Moraes, ressalta que a implantação das barreiras é o primeiro passo para delimitar a zona de uso por parte dos animais silvestres. “Quando as barreiras estiverem devidamente instaladas, espera-se que seja cada vez mais raro o encontro entre humanos e capivaras na orla do lago”, explica. “Esse estabelecimento espacial também vai viabilizar a elaboração de um protocolo de ação mais efetivo sempre que alguma capivara for avistada fora dessas áreas – tudo isso com a finalidade de propiciar a convivência harmônica entre humanos e capivaras”.

A Sema, em conjunto com a Universidade Católica de Brasília (UCB), está desenvolvendo o projeto Identificação e Monitoramento da População de Capivaras na Orla do Lago Paranoá. “O projeto visa conciliar o uso do espaço público, unindo a conservação de animais silvestres e o lazer dos cidadãos. Para formular políticas públicas eficientes, decidimos financiar uma pesquisa científica, que nos trará informações idôneas, e investir em educação ambiental”, informa o secretário de Meio Ambiente, Sarney Filho.

A pesquisa vai buscar respostas para várias questões. A população de capivaras do DF tem aumentado ou não? Em caso afirmativo, esse aumento é muito ou pouco? As pessoas estão usando mais o habitat desses animais devido à desocupação da orla ou estão apenas visualizando mais o que já existia? As capivaras apenas mudaram de lugar por se sentirem mais livres em função de não terem mais cercas? Tudo isso será avaliado.

Com duração prevista de um ano, o projeto permitirá conhecer o tamanho da população atual, como está a saúde do animal e o estado de conservação do habitat. Serão disponibilizados ao cidadão comum trabalhos científicos que já existem sobre as populações de capivaras, principalmente, as do DF, relacionados às doenças (zoonoses). Assim, será produzida informação de educação ambiental e comunicação científica para a população do DF.

Recursos do Fundo Único do Meio Ambiente (Funam-DF) serão destinados a ações de educação ambiental voltada à população frequentadora dos espaços da orla do Lago Paranoá. O lago, lembra o Brasília Ambiental, se insere em uma Área de Preservação Permanente (APP), que tem, principalmente, uma função ecológica, por meio da qual se deve evitar o assoreamento do lago e garantir o fluxo das espécies nativas – entre essas, a capivara.

“A capivara vive em ambientes próximos às áreas alagadas e precisa de pastagens para se alimentar. Então, é perceptível que aquela é uma área ideal para ela e é o habitat natural dela. Com a retirada das cercas, elas agora podem circular com mais tranquilidade e escolher quais são as áreas que para elas são melhores para habitarem”, pontua a chefe da Assessoria Estratégica da Sema, Suzzie Valladares.

Thiago Silvestre, por sua vez, enfatiza que o Lago Paranoá recebe afluentes. Um deles nasce dentro do Parque Nacional de Brasília e vai desembocar no Córrego do Bananal. Isso quer dizer que a fauna do Parque Nacional vai para o Lago Paranoá e vice-versa.

“O lago recebe diversos animais silvestres, como capivara, jacaré, lontra, peixes, além do afluente que vem da APA Gama Cabeça de Veado. As pessoas precisam entender que as populações de capivaras e outros animais no lago Paranoá serão sempre recorrentes, e não há uma solução para afastar as capivaras das pessoas. O objetivo do nosso trabalho é conscientizar as pessoas de que é necessário e possível a convivência harmoniosa com esses animais”.

Uma outra ação que os órgãos ambientais vão empreender é ampliar o grupo de trabalho do Brasília Ambiental. Passará a ser interinstitucional e deve contar com técnicos da Sema e da Diretoria de Vigilância Sanitária da SES. A intenção é que o trabalho seja conjunto, para obter resultados mais efetivos.

Fonte: Brasília Ambiental