Da Redação
Foto: Divulgação
Quatro dias de apresentações, quatro encontros de artistas, quatro famílias de instrumentos. Essa é a essência de Quadrilátero, projeto que nasceu em 2012 e retorna aos palcos do Centro Cultural do Banco do Brasil, e chega a Brasília em 25 de setembro, depois de passar com sucesso pelo Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Idealizado por Leo Gandelman, com apoio do produtor cultural Pablo Castellar, o projeto reúne, a cada dia, quartetos de feras da música brasileira, em encontros singulares.
A cada apresentação – 25, 26, 28 e 29 de setembro, sempre às 20h – quartetos de diferentes famílias de instrumentos ganham destaque. Os convidados são Pretinho da Serrinha, Robertinho Silva, Marcos Suzano e André Siqueira, na percussão (dia 25/09); Leo Gandelman, Nivaldo Ornelas, Mauro Senise e Zé Carlos Bigorna no sax e instrumentos de sopro (dia 26/09); Henrique Cases, Rogério Caetano, Luis Barcelos e João Camarero nas cordas dedilhadas (dia 28/09); e fechando o circuito (dia 29/09), Janaina Salles, Joanna Bello, Inah Kurrels, Jocelynne Huiliñir Cárdenas nas cordas.
O público terá a oportunidade de conferir o talento individual de cada artista e participar do encontro do quarteto, todos tocando juntos. Leo Gandelman atua como anfitrião e faz participações especiais em todos os espetáculos. Ao final da apresentação do quinteto de cordas no dia 29, haverá uma conversa de meia-hora com o público para aprofundar o debate sobre a carreira dos músicos e falar sobre a intrínseca relação do artista com a música. Também dentro da programação, o idealizador e curador do Quadrilátero, o músico Léo Gandelman, fará uma masterclass com duração de uma hora aberta ao público, no dia 26, às 18 horas.
“Estamos provocando encontros de músicos que estão tocando juntos pela primeira vez neste projeto. É um encontro de confiança e confiança é fundamental para a música fluir. Estamos muito felizes de levar esse encontro para o CCBB Brasília” – conta Leo Gandelman. – Antes de iniciarmos os ensaios para a primeira série no Rio, eu estava tocando sozinho, em casa, compondo, treinando. A minha motivação era o encontro com o meu instrumento. Essa paixão segue, mas agora que retomei a produção dos nossos programas no canal Bis e estou tocando com esses músicos incríveis, fico ainda mais motivado.
Estamos seguindo todos os protocolos estabelecidos pelas autoridades locais e a Organização Mundial da Saúde para a convivência nos bastidores e no palco. E o CCBB, que voltou a abraçar o Quadrilátero, é extremamente cuidadoso com o respeito às normas para a plateia. É um grande privilégio poder participar desse retorno aos palcos de artistas dessa grandeza – explica Pablo Castellar.
Entrevista com Léo Gandelman
Como nasceu o projeto?
Primeiro pensei em um quarteto. Depois em quatro quartetos. Em quatro cidades… Aí convidei meu amigo Pablo Castellar. Tivemos encontros ótimos e bem localizados. Era 2011 e o Pablo morava na Urca. A gente teve muitas ideias ali, no Bar Urca. Fomos contextualizando esse embrião, desenhando juntos, e saiu a ideia do Quadrilátero: quatro músicos que juntos representam uma família de instrumentos. Quatro quartetos que se apresentam em quatro cidades. A primeira edição aconteceu em 2012. E em fevereiro retomamos, nesse momento muito incomum. É um marco.
São encontros inusitados. E todos os convidados ficam muito felizes com a ideia. Juntar, por exemplo, o Robertinho Silva com o Pretinho da Serrinha, é sensacional. O Robertinho é um músico com uma estrada enorme, perto dos 80 anos. Já o Pretinho da Serrinha é um representante novo do samba carioca. E por aí vai. São encontros que você só vai ver no Quadrilátero. E o resultado sonoro também é extremamente original e único. Como diria Robertinho Silva, a gente trabalha com música nua, a música sem combinação.
Qual a importância de um projeto como esse para a música brasileira num momento tão delicado?
Muitos músicos tiveram suas atividades interrompidas. Muitos dos artistas que fazem parte do Quadrilátero não tocavam desde o início do ano passado. O artista precisa do público para exercer sua profissão. Como o público não podia se reunir, nossa atividade foi uma das primeiras que parou e foi uma das últimas a retomar. Esse projeto marca o retorno desses artistas ao palco, com muito cuidado. Nós, por exemplo, do sopro, não podemos usar máscara o tempo todo, estamos desnudados no palco. Então teremos placas de acrílico separando os músicos.
Eu fiquei sem tocar com ninguém de dezembro de 2019 até o primeiro show do Quadrilátero no Rio. Depois, tive problemas de saúde que se misturaram com a pandemia e não tive a chance de interagir com outros músicos. Estava tocando sozinho, praticado meu instrumento, exercitado minha composição, desenvolvido minhas ideias. O Quadrilátero vem sendo um momento em que eu posso rever os amigos e tocar com eles. É um momento muito emocionante, e só quem está lá no CCBB pode entender. A primeira temporada no Rio foi um momento muito importante porque foi a retomada para a maioria dos músicos. E esse encontro agora, fechando o ciclo, em Brasília, será muito especial.
Quando você conversou com os músicos para explicar o projeto e fazer o convite, como foi a reação deles?
Todos receberam a ideia com muita alegria. É claro que é uma sensação dividida entre a volta e o medo. Muitos me perguntaram sobre os procedimentos. Mas depois de tudo explicado, aceitaram e estão entusiasmados, debatendo repertório, ensaiando… A vontade de realizar é bem maior. Todo mundo está querendo tocar, querendo exercer a música. Viver a música que a gente gosta de fazer, da forma em que a gente acredita.
Neste projeto você assume os papéis de produtor, curador e host. São papéis pouco conhecidos do público. Pode contar um pouco para a gente?
Eu trabalho apresentando programas há muitos anos, comecei na extinta Rede Manchete. Depois fiquei por três anos no canal Multishow, da Globosat. Já tive programas de rádio sobre música instrumental na extinta MPB FM, depois na Sul América Paradiso. Gosto dessa comunicação direta com o público através de programas de TV e rádio. No momento, sou apresentador, diretor e curador do programa Vamos Tocar, que já tem quatro temporadas gravadas com 40 artistas, no ar no Canal Bis. Também estou produzindo e dirigindo o programa Hip Hop Machine, que pode ser visto no Canal Bis e no YouTube. É um programa que mistura Jazz com Hip Hop. E a Eloá Souto, nossa produtora no Quadrilátero, será também diretora da nossa nova série, dedicada a artistas mulheres da música brasileira, chamada O Som Delas. Fora outros tantos projetos que desenvolvemos aqui na nossa produtora audiovisual. Nos shows do Quadrilátero, eu recebo os convidados no palco e falo um pouco sobre a intenção por trás do repertório daquele espetáculo. E participo no final com uma canja, né?
Você diz que música precisa de confiança…
A música é um esporte coletivo, né? Por mais que haja um roteiro preestabelecido, são criações do momento, da hora, principalmente no caso dos percussionistas. Para criar ao lado de uma pessoa, você tem que confiar nela. A música é feita de união e confiança. Nesse sentido, a música ensina muito, é uma lição de trabalho conjunto, assim como os esportes coletivos. Na música que é feita na hora, que se aproveita do improviso, como no caso do Quadrilátero, isso acontece principalmente nas apresentações com foco no saxofone e nas percussões.
Como é a sua relação pessoal com o sax?
Parece que a minha curiosidade aumentou com o tempo. Eu comecei a acompanhar artistas em orquestras e conjuntos menores. Foram anos muito importantes em que eu aprendi muito, foi um período de desenvolvimento artístico. Depois experimentei minhas composições, empreendi, sempre buscando soluções para minha profissão, explorando espaços novos, criando projetos. Tudo isso toma um tempo que nos afasta do instrumento.
Ainda hoje a minha luta é conseguir tempo para estudar, porque vejo que tenho muito a aprender e minha curiosidade só aumenta. Eu acordo pensando no momento de me encontrar com meu instrumento. Ultimamente tenho experimentado tocar com o som bem baixinho. Assim, posso tocar em qualquer lugar. Hoje ando agarrado ao meu instrumento. Se sobrar uma horinha, eu vou para o cantinho e ali mesmo fico tocando baixinho. A minha motivação máxima na música hoje é tocar o saxofone.
Essa relação de transparência do músico com um instrumento é o foco desse projeto, vai estar lá, vivo, no palco. Através do instrumento, mostramos nosso espírito, nosso jeito de ver o mundo, de colocar para fora as ideias e os sentimentos que estão dentro da gente. Essa relação com o instrumento é muito íntima. Mas eu não tenho o apego material por um sax, eu nunca me relacionei com instrumentos como se fossem uma pessoa. Eu tenho certeza que qualquer sax que eu tocar será sempre um sax.
Entrevista com Pablo Castellar
Pablo, por que o CCBB?
Minha relação com o Centro Cultural é muito antiga. É um espaço único por estimular novas perspectivas para a música instrumental brasileira. Fiz muitos projetos no CCBB até 2012, quando assumi a direção artística da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), infelizmente não tinha mais tempo. Estou muito feliz em retomar essa relação.
O que te atraiu para retomar o projeto Quadrilátero?
O interessante nesse encontro promovido pelo Quadrilátero é que temos a possibilidade de ver tanto o talento singular do solista como a sua capacidade de sinergia com o seu naipe. Um grupo de grandes músicos que tocam sozinhos, mas que também mostram seu talento de misturar e fazer um encontro único.
Que tipo de cuidados de saúde e bem-estar vocês estão tomando nessa temporada de Brasília?
Nós conversamos desde o início com cada um dos músicos convidados para explicar como seria na prática essa retomada. Além disso, contratamos uma sanitarista que fez uma análise de quais deveriam ser os nossos protocolos. Lembrando que temos artistas no nosso cast prestes a completar 80 anos. Ela desenhou todo o passo a passo de como seria o dia a dia nos bastidores e no palco. Já na plateia o público pode contar com os protocolos que o CCBB vem aplicando com sucesso desde que reabriu. Parte da razão de nossos convidados terem aceitado tocar no projeto foi o fato de ser no CCBB. Eles sabem que podem confiar. Cada um deles recebe um documento com todos os detalhes para saber como agir. Além disso, existem especificidades, como a apresentação do quarteto de sax. Como é um instrumento de sopro, os artistas não podem ficar de máscara no palco. Então temos placas de acrílico separando os músicos uns dos outros. Cuidamos de tudo nos bastidores para que músicos e público tenham um encontro inesquecível.
Dica:
Quadrilátero 2021
Dia 25/09, às 20h – Percussão – Pretinho da Serrinha, Marcos Suzano, Marcelo Costa e Robertinho Silva. Tema: Da África às Américas
Dia 26/09, às 20h – Sax – Leo Gandelman, Mauro Senise, Zé Carlos Bigorna, Nivaldo Ornellas. Tema: Ary Barroso e Moacyr Santos
Dia 28/09, às 20h – Cordas dedilhadas: Rogério Caetano, Luis Barcelos, João Camarero, Henrique Cases. Tema: Choro e Afro Sambas
Dia 29/09, às 20h – Cordas: Janaina Salles, Joanna Bello, Inah Kurrels, Jocelynne Huiliñir Cárdenas. Tema: Radamés Gnattali, Astor Piazzolla e Villa Lobos
No dia 26/09, às 18 horas acontece uma masterclass com Leo Gandelman e no dia 29/09, após a apresentação do Quarteto de Cordas, as musicistas farão um bate-papo com a plateia.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília SCES, Trecho 2
Masterclass com Leo Gandelman: 26/09 às 18 horas
Bate-Papo com musicistas do quarteto de cordas: dia 29/09 após a apresentação das 20h
Entrada: R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia)
A venda de ingressos ocorre através do site da Eventim.
Mais informações: 3108 7600 e ccbbdf@bb.com.br
Instagram: @ccbbbrasilia