Da Redação
Fotos: Divulgação
No último final de semana foi inaugurada uma expansão da Cerrado Galeria, o projeto Cerrado Cultural. Localizado em uma chácara no Lago Sul, o novo espaço tem como objetivo fomentar a cultura e a educação em artes visuais no Centro-Oeste. Com mais de 1,6 mil metros quadrados, o lugar estreia com duas exposições: Uma individual dedicada ao artista Rubem Valentim, intitulada “Mito, rito e ritmo interior”, e uma coletiva, batizada de “O centro é o oeste insurgente”. Paralelamente às mostras do espaço Cerrado Cultural, a Cerrado Galeria, localizada no Comércio Local da QI 05 do Lago Sul, recebe a mostra Boca da Noite.
Sobre os espaços
O novo projeto segue a vocação da Cerrado Galeria, que nasceu para divulgar, fomentar, promover diálogos e dar visibilidade à arte contemporânea e moderna produzida na capital federal e na região Centro-Oeste, contribuindo para o cenário cultural e formando público, com espaços em Brasília e em Goiânia.
A filial brasiliense foi inaugurada no ano passado a partir da união de Antônio Almeida e Carlos Dale, sócios fundadores da Almeida & Dale Galeria de Arte, de São Paulo, com Lúcio Albuquerque, que atuava na Casa Albuquerque Galeria de Arte, em Brasília. Os três galeristas somam mais de 30 anos de atuação no mercado de arte.
A Cerrado Galeria é o mais recente e importante passo da trajetória de três galeristas que vêm de diferentes lugares do Brasil e levam em conta o amadurecimento, a profissionalização e a descentralização do mercado de arte no país, bem como a firme convicção de existe no Centro-Oeste grande interesse e demanda por conteúdo de qualidade no campo das artes visuais. São eles: Antônio Almeida, Carlos Dale e Lúcio Albuquerque.
Em Brasília, a Cerrado funciona em imóvel comercial na QI 05 do Lago Sul, com 550 metros de área. Em Goiânia, ocupa a casa modernista da rua 84, projetada por David Libeskind, cujos azulejos originais foram conservados a fim de preservar esse marco da arquitetura goiana que já abrigou a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-GO), em 500 metros quadrados de área construída.
Sobre as exposições
Mito, rito e ritmo interior
Considerado uma das referências do construtivismo brasileiro, o pintor, escultor e gravador baiano Rubem Valentim terá seu legado exposto no piso superior do Cerrado Cultural, na mostra Mito, rito e ritmo interior: Rubem Valentim fazer como salvação. A mostra tem curadoria de Lilia Schwarcz, uma das principais pesquisadoras de história e de arte do país.
As obras ficarão divididas em salas a partir de uma ordem cronológica. A mostra inicia-se com as produções em que Valentim está testando a geometria com os elementos das religiões de matrizes africanas. Na sequência vem os trabalhos tridimensionais, com esculturas e obras mais rígidas e concretas, mas também sob a influência religiosa. O terceiro momento mostra a explosão de cores e paletas.
A exposição continua com uma sala que apresenta o ateliê de Rubem Valentim, cedido pelo Instituto Rubem Valentim, e segue para o quinto e último ambiente, uma sala projetora inspirada num projeto expográfico do baiano. Cada um dos espaços é norteado por conteúdos e documentos que dão um panorama histórico. O objetivo é trazer os impasses contextuais do artista trazendo para o público as questões presentes nas obras.
A mostra é uma homenagem ao artista que escolheu a capital federal para morar durante um período de sua vida, fato que influenciou diretamente na inclusão do tridimensionalismo em sua obra. “Essa exposição, sediada em Brasília, pretende explorar o local da cidade como momento de inflexão e de agigantamento do trabalho mágico e emblemático de Valentim. Jovem como o artista, a nova capital federal se erguia de maneira monumental, a partir dos traçados retos e concretos, e o desafio acabou por fisgar o artista que nunca deixou de fato a cidade e seu convívio”, explica Lilia Schwarcz no texto curatorial da exposição.
O centro é o oeste insurgente
Já o piso inferior do local será ocupado pela mostra O centro é o oeste insurgente. Com curadoria de Lilia Schwarcz e Divino Sobral, diretor artístico da galeria, a exposição terá 50 obras, entre pinturas, esculturas, fotografias e desenhos, de 15 artistas do Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso. Entre eles, cinco são do elenco da Cerrado Galeria e os demais foram convidados a compor a mostra. O elenco completo é composto por Abraão Veloso, Alice Lara, André Felipe Cardoso, Antônio Obá, Daiara Tukano, Dalton Paula, Denise Camargo, Douglas Ferreiro, Gervane de Paula, Hal Wildson, Helô Sanvoy, Kássia Borges, Naine Terena, Raquel Rocha e Talles Lopes.
Entre os destaques estão nomes referenciais: o pioneiro Gervane de Paula (MT), que tem mais de 40 anos de carreira como pintor, escultor e artista visual; o consagrado Dalton Paula (DF/GO), que este ano participa da Bienal de Veneza; Antônio Obá, considerado um dos artistas mais importantes de sua geração; Kássia Borges (GO/MG) e Daiara Tukano (DF), que projetam a arte contemporânea criada por mulheres indígenas.
A mostra reúne diferentes gerações para expressar a arte de artistas de origem índigena ou de descendência africana sob a perspectiva da resistência. Ao voltar o olhar para esses trabalhos, o circuito enfatiza a relevante contribuição desses artistas para a formação da história do Centro-Oeste do Brasil.
Boca da Noite
A Cerrado Galeria recebe a mostra Boca da Noite, de Marcela Cantuária com curadoria de Ana Clara Simões Lopes. Natural do Rio de Janeiro, a artista plástica é conhecida por um extenso corpo de obras que entrelaçam imagens históricas advindas do universo da política a representações da cultura visual contemporânea. A última exposição da artista em Brasília foi em 2018.
A mostra apresenta mais de uma dezena de obras, em sua grande maioria inéditas e feitas especialmente para a exposição, que se desenrolam em uma atmosfera simbólica, alcançada por meio de uma paleta escurecida e uma simbologia que se constela em fenômenos e criaturas noturnas, tais como as mariposas e os lobisomens.
“Essa mostra reúne uma série de obras inéditas em que, de forma muito inventiva, Marcela investiga cenas noturnas”, adianta a curadora Ana Clara. “Foi um desafio a que a artista se propôs já que sua produção, até agora, era marcada por uma luminosidade predominantemente diurna. A noite, aqui, é impulsionada por um arcabouço simbólico de relatos encantados sobre o Araguaia na década de 1960-70, onde as mulheres e homens comprometidos com a resistência política no Brasil transformariam-se em criaturas noturnas, tais as mariposas e lobisomens, para se esconder na mata”, explica.
Boca da Noite traz uma variedade de linguagens artísticas. Além de pinturas à óleo sobre tela e madeira, Marcela Cantuária apresenta ainda obras em cerâmica – técnica que a artista passou a explorar de forma mais enfática após uma recente residência na Bordallo Pinheiro em Portugal –, além de pinturas que se constroem sobre objetos como um oratório e um biombo, artefatos recorrentes na prática da artista.
Entre as pinturas, há um trio de obras que partilha de uma atmosfera simbólica de transformação e metamorfose: O Casulo, em que Marcela representa-se em crisálida; Marilene Vilas Boas, onde vemos esta guerrilheira metamorfoseada em mariposa; e O Renascimento, onde um corpo repousa sob a terra e uma mariposa alça voo.
Já entre as experimentações cerâmicas será apresentada a obra O Lobisomem, que estabelece uma referência direta a Osvaldo Orlando da Costa, protagonista da Guerrilha do Araguaia que ficou conhecido por, supostamente, conseguir transformar-se nesta mítica criatura noturna.
Complementam a exposição duas obras do acervo de Marcela Cantuária, que compõem suas séries anteriores: Uma proposta para o reencantamento, que representa uma série de mulheres emblemáticas em reflexão sobre o apagamento sistemático das perspectivas, e o Retrato de Maria Augusta Thomaz, que destaca o olhar da estudante universitária e militante política. As pinturas foram escolhidas para compor a mostra inédita por já anunciarem o interesse da artista nas cenas noturnas, além da proximidade conceitual que apresentam frente aos temas explorados na mostra.
Dica:
– Cerrado Cultural – Cerrado Galeria
SHIS QI 05 Chácara 10 (Lago Sul )
Instagram: @cerrado.galeria
Exposições
De 17/8 a 1/11
Mito, rito e ritmo interior: Rubem Valentim fazer como salvação
Curadoria de Lilia Schwarcz. Exposição individual do artista Rubem Valentim
O centro é o oeste insurgente
Curadoria de Divino Sobral e Lilia Schwarcz. Exposição coletiva com obras dos artistas: Abraão Veloso, Alice Lara, André Felipe Cardoso, Antônio Obá, Daiara Tukano, Dalton Paula, Denise Camargo, Douglas Ferreiro, Gervane de Paula, Hal Wildson, Helô Sanvoy, Kássia Borges, Naine Terena, Raquel Rocha e Talles Lopes
– Cerrado Galeria
SHIS QI 05, bloco C (Comércio Local – Lago Sul)
Instagram: @cerrado.galeria
Exposições
De 16/8 a 11/10
Boca da Noite
Curadoria de Ana Clara Simões Lopes. Individual de Marcela Cantuária