CCBB traz para Brasília uma exposição inédita no Brasil: “ROUČKA – Kafka em Movimento”

Da Redação
Foto: Divulgação

De 11 de março a 25 de maio, o Centro Cultural Banco do Brasil Brasília oferece ao público a exposição “ROUČKA – Kafka em Movimento”, uma imersão visual na obra do renomado pintor tcheco Pavel Roučka, inspirado pelo universo literário de Franz Kafka, em especial pelo romance “O castelo”. A mostra inédita no Brasil reúne um conjunto expressivo de pinturas em grande formato e litografias, traduzindo em cores e formas expressivas a complexidade e os simbolismos kafkianos.

A mostra “ROUČKA – Kafka em Movimento” estabelece uma conexão entre arte, literatura e história. É um convite ao público para refletir sobre os dilemas da existência humana sob uma nova perspectiva visual através de um mergulho na obra e no processo criativo do artista plástico contemporâneo e a obra do escritor nascido no final do século XIX.

Composta por 44 obras, entre pinturas em grande formato produzidas entre 1989 e 2024 e litogravuras produzidas entre 1991 e 2012, a mostra apresenta um recorte significativo da produção do artista tcheco. São distorções geométricas, figuras que traçam acrobacias entre o humano e o não-humano, tipos esquálidos e acuados, que se movimentam diante de lutas improváveis e fazem da agonia interna um traço da sua presença, da sua passagem. Roučka intitulou muitos dos seus trabalhos a partir de situações vindas diretamente da sua leitura e imaginação de trechos escritos por Kafka.

Experiências sonoras, visuais e táteis convidam o público a uma experiência imersiva na obra do pintor e do escritor. O desenho de som que permeia a galeria foi produzido a partir de frases retiradas de textos de Kafka e faladas em português e em tcheco, criando uma atmosfera que conduz o visitante pelo universo literário de Kafka. Uma réplica de “O castelo” impresso em alemão em 1926, banners em português e inglês com trechos do livro e exemplares do romance e coletados em sebos de livros apresentam ao público as várias edições publicadas no Brasil ao longo de quase cem anos desde que foi apresentado pela primeira vez. Uma videoarte produzida pelo diretor Pablo Munhoz a partir de filmagens de Roučka realizadas pelo documentarista Vladimir Holomek no ateliê do artista, com música de Leoš Janáček e frases de Franz Kafka. A mostra conta com acessibilidade para pessoas cegas e com baixa visão por meio de mapa tátil e áudio descrição de grande parte das obras.

Em seu ateliê em Praga, Pavel Roučka ainda produz inspirado pela literatura de Kafka. “Sinto-me atraído por uma linguagem diferente, inigualável, a linguagem de Franz Kafka, que há mais de cem anos, usando palavras (como tons plenos de cores?) e palavrinhas (como semitons coloridos?”

Pavel Roučka nasceu em Praga em 20 de junho de 1942 e fez sua formação acadêmica na Escola Secundária de Geodésia e Cartografia de Praga, onde se formou em 1960. Entre 1968 e 1969, foi responsável pela cenografia de desenhos animados no estúdio Belvision, em Bruxelas. A partir de 1974, ampliou suas experimentações gráficas para além da pintura, criando composições figurativas e paráfrases de imagens do Renascimento, utilizando técnicas de rotogravura e verniz fundido. Em 1977, passou a trabalhar com litografia, produzindo gravuras originais com temas bíblicos, além dos kafkianos. A partir dos anos 1980, concentrou-se principalmente na pintura, no desenho e na litografia, sendo conhecido por suas composições figurativas expressivas, marcadas pelo uso de cores incomuns, e por métodos de trabalho não convencionais. É também a partir dos anos 1980 que Roučka começa a produzir as pinturas em grande formato criando um diálogo entre as várias técnicas e suportes para traduzir a obra de Kafka.

“Ao descobrir minha primeira paixão literária, “O castelo”, de Kafka, eu – um estudante de agrimensura não muito entusiasmado, que passava o tempo rabiscando embaixo da carteira – imediatamente me identifiquei com o personagem agrimensor K., que também não demonstrava muita pressa para começar a trabalhar no castelo”, afirma o artista plástico. Escrito em 1922 e lançado após a morte de Kafka (1924), o romance conta a história do Senhor K, um agrimensor contratado por um conde para prestar um serviço que ele não consegue realizar por mais que se esforce, ao não conseguir entrar na edificação. “Sinto-me atraído por uma linguagem diferente, inigualável, a linguagem de Franz Kafka, que há mais de cem anos, usando palavras (como tons plenos de cores?) e palavrinhas (como semitons coloridos?), adentra nosso subconsciente, transcende a consciência e questiona a palavra falada, ciente de que ela pode soar completamente diferente”, ressalta Roučka.

A mostra é realizada com o apoio da Embaixada da República Tcheca e com o patrocínio do CBC. “A ideia de apresentar o trabalho de Pavel Roučka ao público brasileiro surgiu muito antes de eu chegar ao Brasil. Inserir a arte contemporânea tcheca no contexto da arquitetura modernista de Brasília é, de certa forma, um objetivo natural e altamente estimulante. Sua concretização foi resultado do trabalho de inúmeras pessoas, bem como da feliz interação de uma série de circunstâncias”, afirma Pavla Havrlíková, embaixadora da República Tcheca no Brasil.

Como forma de ampliar o contato do público com a obra do artista e do escritor, a mostra disponibiliza o site www.rouckakafka.com.br. Nele, constam informações sobre obras e livros, textos de especialistas e conteúdos especiais.

Sobre Franz Kafka

Franz Kafka é um dos autores mais influentes do século XX. Sua obra composta por romances e contos foi referência para grandes escritores, entre eles Albert Camus, Gabriel Garcia Marques e Jean Paul Sartre. Muito lembrado por “A metamorfose” e seu personagem que aos poucos perde suas características humanas e transforma-se em um “inseto monstruoso”, Kafka escreveu ainda “O processo” e “O castelo”, romance ao qual Pavel Roučka remete em sua produção artística. Kafka nasceu em Praga, hoje capital da República Tcheca, no dia 3 de julho de 1883 quando a região da Boêmia ainda era parte do Império Austro-Húngaro e a língua oficial era o alemão. É por isso que toda a sua produção literária foi escrita originalmente em alemão e depois traduzida para várias línguas. Sua obra transcende o realismo ao abordar temas e arquétipos de alienação e brutalidade física e psicológica, conflitos geracionais, personagens com missões aterrorizantes, labirintos burocráticos e transformações místicas.

Dica:
“ROUČKA – Kafka em Movimento”
Mostra de pinturas e litogravuras do pintor tcheco Pavel Roučka
De 11 de março a 25 de maio. De terça a domingo, das 9h às 21h (entrada na galeria até às 20h40)
Local: Galeria 2 do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Acesso gratuito, mediante retirada de ingresso no site bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília
Classificação Indicativa: Livre
Instagram: @ccbbbrasilia

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