Dogville, a adaptação teatral do filme em Brasília

Da Redação
Foto: Divulgação

O diretor paulistano Zé Henrique de Paula dirige a primeira adaptação teatral brasileira para Dogville, obra-prima do cineasta dinamarquês Lars Von Trier. A peça estreia no dia 1º novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. A temporada segue até 24 de novembro. No elenco, Ana Andreatta, André Garolli, Alexia Dechamps, Blota Filho, Eric Lenate, Fernanda Couto, Fernanda Thurann, Gustavo Trestini, Larissa Maciel, Lucas Romano, Marcia Oliveira, Marcelo Villas Boas, Munir Pedrosa, Rodrigo Caetano, Rosana Penna e Thiago Furlan.

A trama se passa na fictícia cidade de Dogville, uma pequena e obscura cidade situada no topo de uma cadeia montanhosa, ao fim de uma estrada sem saída, onde residem poucas famílias formadas por pessoas aparentemente bondosas e acolhedoras, embora vivam em precárias condições de vida. A pacata rotina dos moradores daquele vilarejo é abalada pela chegada inesperada de Grace (Mel Lisboa ?), uma forasteira misteriosa que procura abrigo para se esconder de um bando de gangsteres.

Recebida por Tom Edison Jr. (Rodrigo Caetano), que, comovido pela sua situação, convence os outros moradores a acolhê-la na cidade, Grace, apesar de afirmar nunca ter trabalhado na vida, decide oferecer seus serviços para as famílias da Dogville em agradecimento pela sua generosidade. Porém, no decorrer da trama, um jogo perverso se instaura entre os moradores da cidade e a bela forasteira: quanto mais ela se doa e expõe a sua fragilidade e a sua bondade, mais os cidadãos de bem exigem e abusam dela, levando a situação a extremos inimagináveis.

A obra faz uma crítica mordaz ao mundo contemporâneo e à sociedade de consumo por meio de uma radiografia precisa da alma humana. “São situações reais e muito próximas de nós, que colocam uma lente de aumento na alma do ser humano. É como se não acreditássemos que aquelas pessoas fossem capazes de explorar essa mulher de forma tão cruel. O filme discute questões muito atuais como a xenofobia, a intolerância, e põe em cheque a máxima do sistema capitalista onde, para se obter lucros exorbitantes, é preciso explorar ao máximo o outro, por vezes de formas desumanas”, revela o produtor e idealizador da peça Felipe Lima.

Ainda segundo ele, o filme fala sobre os limites humanos. “Em tempos de intolerância, de exploração é necessário mostrar que, embora o ser humano tenha uma tendência a agir de modo abusivo em determinadas situações, é preciso impor limites. Nem tudo é aceitável, muito menos tolerável. É preciso exercitar a empatia, olhar com atenção para o outro. E que até a bondade excessiva e a resignação podem ser manifestações de arrogância, de paternalismo. Até que ponto você tem que perdoar no outro atitudes e comportamentos pelos quais se puniria?”,  explica.

Para o diretor Zé Henrique de Paula, é desafiador transformar o filme de Lars Von Trier em uma peça porque a obra já evoca essa estrutura teatral. “Acho que o filme é uma referência muito forte, é icônico e sinônimo de Lars Von Trier e daquela linguagem mais teatral. Adotamos o caminho inverso: na peça flertamos com a linguagem cinematográfica, utilizando não somente projeções e videomapping, mas também projetando cenas filmadas ao vivo durante o espetáculo. Como se não bastasse, ainda há os desafios da própria narrativa – o caminho rumo à nossa sombra, nosso lado escuro, nossos sentimentos mais negativos e mesquinhos. Trabalhar isso com os atores envolve muita energia e desprendimento por parte de todo o elenco e equipe”, revela.

Além da linguagem cinematográfica, a montagem flerta com estéticas importantes do teatro e do teatro físico, como de Tadeusz Kantor, Pina Bausch e Dimitris Papaioannou. “A ideia é explorar a secura do texto, a aridez da cidade e a precariedade dos personagens de forma a trazer isso também para o corpo dos atores e os elementos de encenação”, diz o diretor.

“O cenário de Bruno Anselmo (indicado ao Shell por 1984) é uma sucessão de telas, algumas mais translúcidas, outras mais sólidas, algumas verticais e outras colocadas na horizontal (como piso propriamente). Nelas, há projeção (a cargo de Laerte Késsimos) de elementos simbólicos, de texto propriamente dito, de cenas gravadas e de cenas filmadas ao vivo durante a peça. A paleta de cores no geral é acinzentada, com utilização de poucos elementos – há 14 cadeiras que representam cada morador de Dogville. Os figurinos de João Pimenta são atemporais e anacrônicos, em diferentes tonalidades, como se houvesse uma intenção do cinza em se tornar outra cor mais vibrante, mas frustrada essa tentativa”, acrescenta Zé Henrique.

Considerado pela BBC um dos melhores filmes do século 21, o longa-metragem de Lars Von Trier, lançado em 2003, foi estrelado por Nicole Kidman, Paul Bettany, Patricia Clarkson, Udo Kier, James Caan, Philip Baker Hall, John Hurt, entre outros. O título ganhou o Prêmio do Cinema Europeu e o Robert Award e foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes.

“Lembro-me de ter assistido à Dogville no cinema e de ter me encantado com a sua estética, era totalmente inovadora; uma obra cinematográfica gravada como peça de teatro em um galpão, onde não havia cenário, só algumas mobílias; e as casas eram feitas com riscos de giz no chão. A encenação era totalmente focada no trabalho dos atores”, comenta Lima.

Dica:
Dogville
De 01 a 24 de novembro, de quinta a sábado, às 20h e domingo, às 19h.
Local: CCBB Brasília – Teatro I (SCES, Trecho 2, Lote 22)
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Ponto de venda: www.eventim.com.br
Classificação indicativa: 16 anos
Mais informações: 3108-7600 / www.bb.com.br/cultura

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