Da Redação
Foto: Carol Resende
O espetáculo operístico “Histeria” foi criado para ser o trabalho final de mestrado da cantora Danielle Dumont na UFG- Universidade Federal de Goiás. Com uma concepção contemporânea, o projeto promove a discussão e a valorização do lugar do feminino na sociedade por meio da personagem Lúcia, que representa a história de tantas mulheres e constrói um sentido para a própria loucura. A peça será encenada nos dias 07, 08, 13, 14 e 15 de maio, no Teatro Sesc Garagem.
O espetáculo pensado para soprano coloratura, que no mundo operístico significa: cantores ligeiros e virtuosos capazes de realizar frases ornamentadas, com extrema agilidade, sem perda de qualidade no timbre ou alterações vocais, têm Danielle como protagonista, encarnando o papel de Lúcia. “Esse é um projeto que nasceu do meu coração e da minha própria trajetória como cantora e como mulher”, afirma Danielle que conseguiu viabilizar a montagem nos palcos brasilienses, depois que o projeto foi contemplado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, que também financiou o livro que serviu de inspiração para o espetáculo. O livro “Histeria: ópera na poética da loucura” teve lançamento virtual em janeiro de 2021 e estará disponível para venda nos dias de espetáculo.
Retratadas em tantas óperas, as personagens femininas foram sempre criadas pelos homens e foi aí que Daniella teve a ideia de contar uma nova história, incorporando e dando voz a essas mulheres derrotadas e caladas por tanto tempo. “As personagens que cantam em Histeria são: a Ofélia da ópera Hamlet de Abroise Thomas, Lucia, de Lucia di Lammermoor/Donizetti, Amina de La Sonnambula e Elvira de I Puritani, ambas de Bellini, Dinorah, da ópera homônima de Meyerberr e Cunegonde, de Candide/Bernstein. Histórias que, de alguma maneira, ressoam na alma de cada um”, completa Danielle.
O espetáculo foi dividido em duas partes: a crise histérica e o processo de cura. Ele narra um processo metamórfico feminino na loucura, em direção ao florescimento de si. É uma caminhada dantesca. Empreender-se numa caminhada desde o inferno é, na verdade, a busca de um caminho até o sagrado, um caminho de purificação e de autoconhecimento. E, como caminhada dantesca, “Histeria” começa nas portas do inferno.
O primeiro ato apresenta o dilaceramento da ruptura e o ápice da crise histérica. A perda da esperança; desesperança. É um empreendimento através da dor. Saber suas dores é sempre saber de si. Saber onde dói é saber a medida do seu corpo, a medida dos sentidos. O segundo ato narra o processo de encontro de si na solidão da loucura e a libertação. Do caos de si mesmo, todo um novo universo brota.
E para levar toda essa loucura para o palco, Histeria conta com profissionais experientes como Manu Castelo Branco, que assina a direção de cena e fará uso de vídeos na concepção visual do projeto. Uma solução cada vez mais recorrente em espetáculos cênicos contemporâneos. “Em histeria, os vídeos são usados para retratar as passagens psicológicas das personagens e reforçam alguns objetos usados em cena, duplicando ou multiplicando seus sentidos”, avalia Manu. A cenografia e figurino ficaram a cargo de Hyandra Ello, que se inspirou na estrutura da psique junquiana, onde camadas do consciente e do inconsciente se entrelaçam. “A ideia foi criar um espaço etéreo, que possa ser qualquer lugar, inclusive a materialização do próprio pensamento, dos sonhos, angústias e o processo de autoconhecimento, os quais a personagem vive intensamente”, diz Hyandra.
Os arranjos musicais da ópera, bem como a escolha dos instrumentos, ficaram a cargo do professor Werner Aguiar da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG- Universidade Federal de Goiás. A direção musical é do maestro Rafael Ribeiro, que regerá uma orquestra de câmara criada especialmente para o espetáculo e conta com nove músicos. Composta por dois violinos, uma viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, clarinete, fagote e piano, o grande segredo para um bom resultado é fazer a ponte entre as escolhas interpretativas da soprano e a unidade orquestral. “Por serem árias de óperas, é esperado que a cantora seja a grande estrela e tenha a liberdade de ornamentar a peça em diversos trechos. Cabe ao maestro dirigir a orquestra conforme as escolhas da soprano”, afirma Rafael.
Após o período de isolamento e sem espetáculos nos últimos 2 anos devido a pandemia, “Histeria” terá finalmente sua estreia brasiliense. Para o produtor Hugo Lemos, da HL Produções, o momento é de comemorar. “Nós fizemos algumas lives durante o isolamento, mas nada se compara a volta aos palcos e o aplauso do público. Estamos bem felizes e cheios de projetos para esse ano”, afirma Hugo.
A bilheteria de Histeria será solidária e vai ajudar o projeto Mulheres Poderosas, grupo de acolhimento e empreendedorismo feminino situado na comunidade Santa Luzia, na cidade estrutural, que cuida de mulheres em situação de vulnerabilidade. Para participar basta levar alimentos, material de limpeza ou roupas e pagar meia-entrada. Além das doações, parte da arrecadação da bilheteria será doada ao projeto.
Dica:
Histeria – Espetáculo cênico-musical com a soprano Danielle Dumont
Espetáculo cênico-musical com a soprano Danielle Dumont
Dias 07, 08, 13, 14 e 15 de maio, às 20h
Local: Teatro SESC Garagem (W4 Sul, quadra 713/913 Sul, lote F)
Ingressos: R$ 20,00 a inteira e R$ 10,00 a meia
Classificação indicativa: 12 anos
Mais informações / WhatsApp: 61 3257-2109
Instagram: @operaembrasilia
Durante os dias de espetáculo estará à venda no foyer do teatro o livro “Histeria: ópera na poética da loucura”, de Danielle Dumont
Duração aproximada: 1h20
Espetáculo com árias cantadas em seus idiomas originais e com falas em português, acompanhado de projeção de legendas em português