Memorial dos Povos Indígenas reabre com mostra de Berta Gleizer Ribeiro

Da Redação
Foto: Marina Gadelha

O Memorial dos Povos Indígenas reabriu nesta sexta-feira (23) para visitação pública com uma seleção da coleção de 380 peças reunidas pelo casal de antropólogos Berta Gleizer Ribeiro (1924-1987) e Darcy Ribeiro (1922 – 1997), idealizadores do espaço projetado por Oscar Niemeyer, cuja construção foi concluída em 1987.

O acervo foi doado pelo fundador da Universidade de Brasília (UnB) e sua companheira em 1995. A exposição, com nome “Yúrakapu”, faz uso de expressão da língua terena que encerra as noções de “boas-vindas” e de hospitalidade.

A visitação acontece de sexta a domingo, das 9h às 15h, e segue regras de higiene e segurança, como uso de máscaras, medição de temperatura e com limite de lotação do salão de 20 pessoas por vez.  “O MPI é um equipamento especialíssimo, pois preserva a memória e os costumes dos nossos povos originários. Essa reabertura é especialmente um momento de deleite para turistas e brasilienses”, observa o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.

O público poderá apreciar adornos, plumagens, cordões e tecidos, instrumentos musicais, armas e artefatos de caça, objetos rituais, mágicos e lúdicos, cerâmicas e utensílios. A exposição reúne arte de cerca de vinte etnias das pouco mais de duas centenas de povos originários existentes hoje. O MPI abriga ainda uma instalação, “O Bosque das Línguas”, que poderá ser apreciada à distância, por trás de um vidro, em razão do protocolo de distanciamento social a ser observado.

O conjunto da exposição é marcado pelo negro das tinturas de jenipapo e babaçu, o vermelho do urucum e o branco da tabatinga, criando a ambiência cromática dos povos originários.

“A exposição está dividida por tipo de objetos, com recorte em criatividade. Baseia-se no argumento de Darcy de que essa era uma das principais características do indígena brasileiro, ao lado do culto da diversidade, das capacidades de criar e transformar”, explica a gerente de acervo da Supac, Aline Ferrari. A referência do antropólogo ficou registrada no livro “Memorial dos Povos Indígenas: Maloca Moderna” (2011, Editora Instituto Terceiro Setor).

O trabalho de identificação das peças exibidas contou com o auxílio de estudiosos indígenas. Elaíde Bento da Silva Guajajara, que mora em Belém, ajudou a descrever o “saiote” caro ao seu povo.

“É um adorno usado cotidianamente e em eventos especiais, como a festa “da Menina Moça” e a “dos Rapazes”, dois dos rituais mais importantes para nós”, relata. Ela explica que o saiote é trançado com fio de algodão cru e ornamentado com sementes e taboquinhas finas conhecidas também como canajuba. Ela é colhida pelos homens, e a confecção da vestimenta fica a cargo das mulheres.

Artesã formada também em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal do Pará, Elaíde conta que “ter podido ajudar a descrever a peça artesanal foi muito gratificante porque sou neta e filha de artesãos e tecelãs. Nós trabalhamos a vida toda com matérias primas fornecidas pela natureza. Saber que uma peça que pode ter sido confeccionada pelas mãos de meus avós está exposta no MPI é muito importante para mim”.

Outro representante dos povos originários que ajudou a aprimorar as descrições de peças da exposição foi Oyexiener Paiter Surui, que significa “homem de poder”.  “No meu ponto de vista, a exposição valoriza a nossa história. Relembrar esses acontecimentos ajuda a entender o que é um povo, uma cultura, seus costumes e tantas histórias perdidas”, diz.

Formado em engenharia ambiental, pertencente ao povo Paiter Suruí de Rondônia, tronco linguístico tupi mondé, ele deixa um depoimento sobre a experiência de participar da montagem da exposição. “Fico feliz em saber que existe um museu dos povos indígenas [em Brasília]; ao mesmo tempo fico triste porque gostaria que todas as cidades tivessem um local para homenagear os povos indígenas que viveram naquela região. Espero que o MPI traga boas reflexões para quem visitar a exposição. ‘Yeteh iter’ (‘obrigado’ na língua original)”.

O subsecretário do Patrimônio Cultural (Supac), Demétrio Carneiro, acredita que “trazer à luz o acervo doado por Berta Ribeiro cumpre o papel de recuperar a função do MPI como repositório de trabalhos importantes dos povos originários”. Foram separadas 220 peças do total de 380 itens que compõem a Coleção Berta Galvão Ribeiro.

A equipe da Gerência de Conservação e Restauro da Supac executou a higienização da parte do acervo que vai compor a mostra. “Por ser um acervo etnográfico, as peças foram higienizadas com metodologias específicas, mantendo a autenticidade, conservando e buscando melhorias para a fruição pelo público durante a exposição”, explica gerente e analista em  conservação e restauro da Secec, Mariah Boelsums.

O MPI, equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), volta a funcionar segundo protocolos de segurança a fim de evitar o contágio com a Covid-19, seguindo rígidas prescrições definidas na Portaria 179, publicada em 16 de setembro pela Pasta.

A Portaria 179 determina o funcionamento dos museus de sexta a domingo, por período de seis horas. Explicita também quem faz parte de grupo de risco de infecção pela Covid-19 (pessoas com 60 anos ou mais, cardiopatas, pneumopatas, imunodeprimidos e gestantes de alto risco entre outras condições particulares) pode solicitar por e-mail agendamentos de visita em horários especiais.

Dica:
“A casa da cultura os indígenas brasileiros: Yúrakapu”
Memorial dos Povos Indígenas (Eixo Monumental Oeste, na Praça do Buriti, em frente ao Memorial JK)
Visitação: de sexta a domingo, de 9h às 15h
Lotação do salão: 20 pessoas (completada lotação será formada fila de espera)
Protocolos: obrigatório uso de máscara, medição de temperatura, higienização de álcool gel e uso de propé em salão acarpetado.
Agendamento especial: mpi@cultura.df.gov.br

Fonte: Ascom/Secec