Museu Nacional recebe exposição de Mestre Didi e Rubem Valentim

Da Redação
Foto: Divulgação

Refletir sobre o sagrado afro-brasileiro em um país com um passado escravocrata e colonial é um ato político. É deste cenário que nasce Simbólico Sagrado, exposição que reúne obras de Mestre Didi e Rubem Valentim, apresentada de 19 de novembro a 19 de janeiro, no Museu Nacional da República. Com curadoria de Thaís Darzé, a mostra reúne uma seleção de 95 obras emblemáticas dos artistas.

“É um diálogo entre as obras de dois artistas negros, baianos, que tiveram o auge de suas produções durante as décadas de 1960 a 1980. Com trajetórias pessoais de vida muito distintas, porém com valores e posicionamentos muito semelhantes – defender, preservar, difundir e elevar a cultura e o legado dos povos africanos, pensando numa identidade genuinamente Brasileira”, explica a curadora.

Dois dos raros artistas afro-brasileiros a terem pleno reconhecimento da crítica de arte nacional e internacional, Didi e Valentim unem, cada um à sua maneira, o rico imagético religioso afro-brasileiro em esculturas e pinturas.

O Candomblé e as demais religiões de matriz africana são agentes de preservação de uma cultura e, não ao acaso, também podem ser movimentos políticos de resistência e sobrevivência de identidade, indo além de templos religiosos de conexão com o sagrado.

“Tanto Rubem Valentim quanto Mestre Didi usam como referência emblemas tradicionais do universo afro-brasileiro. Transmitem os costumes, hierarquias, concepções estéticas, dramatizações, literatura e mitologia dos povos africanos, sobretudo das religiões, e utilizam de profundo conhecimento simbólico para desenvolverem seus próprios vocabulários, transfigurando os objetos ritualísticos em linguagem contemporânea e universal, mas de caráter brasileiro”, pontua a curadora.

Ao contrário de Didi, Rubem Valentim não associa de forma tão literal os símbolos, emblemas e entidades. Suas obras levam títulos mais genéricos, a exemplo de Composição 7, 1962. O universo afro-brasileiro é o que inspirava a construção das complexas composições geométricas abstratas do artista. E, para ele, o resultado final de seu trabalho não se limitava aos jogos óticos, sua problemática era o conteúdo – valores culturais de seu povo.

“Estamos, portanto, diante não apenas de dois grandes artistas, mas de toda uma temática que urge por reposicionamento. Peço licença à citação de Mario Pedrosa que afirma que “toda a arte moderna inspirou-se na arte dos povos periféricos”. Prefiro dizer que toda a arte moderna brasileira inspirou-se no legado cultural dos povos que passaram a viver em condições periféricas no Brasil”, sintetiza Darzé.

Dica:
Sagrado Simbólico, com Mestre Didi e Rubem Valentim
De 19 de novembro a 19 de janeiro de 2020. Terça a domingo e feriados, das 9h às 18h30
Local: Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2 Esplanada dos Ministérios)
Mais informações: 3325-5220 / 3325-6410

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