Por Marlene Gomes, da Agência Brasília
Foto: Paulo H. Carvalho
A bióloga Yara Ballarini sempre teve o sonho de cultivar alimentos que produzissem baixo impacto ambiental. Começou com verduras e hortaliças para o consumo doméstico. Resolveu desafiar-se e partiu para o cultivo de cogumelos. Percebeu que o produto tinha mercado e investiu em conhecimentos. Ao dominar o business, aumentou o tamanho do sonho. Hoje, vende por delivery, em média, 50 bandejas de cogumelos orgânicos por semana, a R$ 10 reais cada.
Parece pouco, mas, em tempos de pandemia, em que muitos se depararam com a diminuição dos negócios, Yara vê possibilidade de crescimento nas vendas da Caliandra Cogumelos, a marca certificada orgânica do seu produto. Primeiro, porque já conta com uma clientela fiel e, depois, por investir em estratégias de marketing, como as redes sociais, para difundir ainda mais o negócio.
“Ainda estou cultivando a clientela. Tudo ajuda na hora de a pessoa conhecer o produto – a propaganda boca-a-boca, o whatsApp e o marketing direto”, explica Yara, 30 anos, que participou do curso de Empreendedorismo Rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), que ajudou a aperfeiçoar seus negócios.
A Caliandra Cogumelos fica na chácara onde Yara reside, no Núcleo Rural Córrego do Urubu, Região Administrativa do Lago Norte. Em uma área de 500 metros quadrados são cultivados os cogumelos, dos tipos Shimeji e Juba de Leão, mas a empresária já pensa em diversificar o trabalho. “Minha ideia é aumentar a produção e começar a cultivar os cogumelos do tipo Shiitake”, afirma.
Em se tratando de empreendedorismo, é melhor não duvidar de Yara que foi uma das finalistas do Prêmio Juventude Rural Inovadora na América Latina e no Caribe, no ano passado. O prêmio destaca iniciativas inovadoras na área rural e foi promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) das Nações Unidas.
Produção vendida para exportadores
No ano passado, Carlos Coutinho começou a torrefação dos grãos e o negócio ganhou a marca Café Minelis, um café especial laureado, em 2019, com a primeira colocação no Prêmio Internacional Ernesto Illy (EIICA). No ano anterior, Coutinho já tinha sido o primeiro produtor de café da região Centro-Oeste a ser finalista no prêmio nacional do EIICA, que é realizado na Itália.
Coutinho, 75 anos, afirma que a pobreza de nutrientes do cerrado, não são um empecilho para quem quer produzir, porque a tecnologia já resolve essa questão. Para ele, o DF tem uma área muito boa para o cultivo de cafés especiais. “O clima é favorável. O inverno, seco, propicia a colheita desse tipo de café e o resultado de nossa produção, que segue altos padrões de qualidade, é um café encorpado, de aroma intenso e sabor adocicado”, informa Carlos Coutinho.
Solução premiada
Entre mil trabalhos inscritos no Programa de Incentivo ao Empreendedorismo Inovador StartBsb – da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP/DF), ligada à Secretaria de Ciência e Tecnologia – realizados no ano passado, 200 foram selecionados para a terceira etapa do certame. Do restrito grupo, apenas três são soluções para a área rural.
Dentre eles, está a pesquisa para a elaboração de adubos orgânicos peletizados (processo de compressão ou moldagem de um dado material) com adubos simples ou compostos orgânicos, do estudante de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio da Costa Júnior.
O projeto de Sérgio visa preencher uma lacuna no mercado com relação à oferta de adubos orgânicos para a produção de alimentos. A proposta do estudante da UnB é a utilização de adubos orgânicos em formulação que atenda a necessidade nutricional das plantas e se adeque ao maquinário agrícola existente, por meio da compactação do produto.
“Teremos um melhor reaproveitamento dos adubos orgânicos já que, hoje, os resíduos orgânicos são, muitas vezes, descartados de forma incorreta na natureza”, explica Sérgio da Costa Júnior, 33 anos.
O pesquisador alerta que a produção agrária é dependente de insumos, para obter mais qualidade. A indústria de fertilizantes químicos atende o agronegócio brasileiro, mas causa a dependência do mercado externo pelos produtos com macronutrientes. “O adubo químico se dissolve no solo com muita rapidez, ocasionando a perda de elementos essenciais ou o distúrbio nutricional nas plantas”, analisa o estudante.
De acordo com o Sérgio, o produto que ele está desenvolvendo tem alto potencial de patente no agronegócio como alternativa de adubação orgânica.. “O sistema pode aumentar o tempo de degradação do produto no solo e minimizar o custo de aplicação de fertilizantes. Tem alto potencial para empresas que fabricam adubos e serve também como proposta de produto para consumidor final”, explica.