Infectologista da Secretaria de Saúde esclarece dúvidas sobre a higiene no setor hoteleiro

Da Redação
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Vital para o bom funcionamento do turismo e circulação de pessoas nas cidades, a rede hoteleira do Distrito Federal tem demandas importantes acerca dos riscos de transmissão da doença transmitida pelo novo coronavírus (Covid-19). Na tarde desta quarta-feira (19), o médico infectologista da Secretaria de Saúde, Eduardo Hage, esclareceu dúvidas do setor em conversa pela internet.

Participaram do bate-papo a secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Adriana Pinto, e o diretor de Operações da HPlus Hotelaria, Plínio Silveira.

O infectologista esclareceu dúvidas sobre arrumação dos quartos, como proceder em caso de clientes com sintomas de contaminação e resolveram se hospedar em um hotel, e até como deve ser a liberação de uma pessoa contaminada.

Leia as perguntas e respostas a seguir e tire suas dúvidas sobre as medidas que devem ser adotadas na rede hoteleira.

Quais procedimentos de limpeza e arrumação dos quartos devem ser adotados pelos hotéis? Inclusive nos serviços de entrega (room service)?

A rede hoteleira de Brasília tem uma situação particular, em que muitas pessoas residem nos hotéis ou ficam neles por um longo período porque sua residência permanente é em outro estado. Haverá, sim, uma grande demanda de pessoas que, caso apresentem sintomas da doença, o recomendável é fazer o isolamento domiciliar. E, nesses casos, o domicílio será na rede hoteleira. Nessas situações recomenda-se que os funcionários que venham a ter contato com os hóspedes ou seu ambiente de moradia utilizem máscara cirúrgica e luvas. Não é necessário usar aquela máscara mais sofisticada, chamada n-95. Como pode haver manipulação de lençóis e fronhas em serviço de limpeza de quarto, há possibilidade de contato com secreções dos hóspedes. As pessoas quando dormem, muitas vezes, eliminam secreções. A luva e o uso de máscara protegem as pessoas que fazem a limpeza.

Um ponto importante: ao entrar e ao sair do quarto onde estão hospedadas essas pessoas é necessário que seja feita a limpeza das mãos com álcool em gel ou com água e sabão. O ideal é que, caso venha ser feita com água e sabão, seja feita fora desse quarto onde vai se proceder a limpeza. A assepsia poderia ser feita no próprio quarto, mas aí os cuidados deveriam ser redobrados. Por exemplo, não poderia ser utilizada a toalha daquele quarto. Então, antes de entrar nos quartos as pessoas devem lavar as mãos, antes mesmo de colocar as luvas e máscaras. Elas devem entrar e, após saírem do ambiente, dispensar esses equipamentos [luvas e máscaras] em local adequado. E devem lavar as mãos como é o recomendado, entre 30 segundos e um minuto.

Os funcionários devem ser tranquilizados de que eles não precisam ter medo de adentrar no quarto. O contato com o ar daquele quarto não possibilita a infecção. A contaminação só se dá por contato direto com a pessoa, com as superfícies ou contato direto com a secreção das pessoas. Estando no mesmo ambiente daquele ar que está circulando, seja com a pessoa presente ou ausente, não há essa possibilidade de contaminação. Isso é importante que seja tranquilizado.

Como deve ser o procedimento em casos de hóspedes que estão com suspeita de terem contraído o vírus e foram esperar o resultado em hotéis? Como proceder com esses clientes e quando recomendar os funcionários que tiveram contato com esses clientes a procurar um médico?

Referente aos hóspedes que realizaram exames e foram considerados como casos suspeitos ou que foram descartados. Em relação aos casos descartados não há nenhum procedimento a ser prosseguido. As pessoas que foram confirmadas ou ainda estão como casos suspeitos devem ser mantidos no ambiente, no quarto, pelo período de isolamento máximo de 14 dias. Nessas situações os procedimentos a serem adotados pelos funcionários foram respondidos na pergunta anterior.

Em relação aos funcionários, deve-se tomar cuidado com o uso de alguns equipamentos de proteção individual, como máscara e luvas. Caso algum funcionário venha apresentar algum sintoma, seja síndrome gripal, tosse ou febre ele deve procurar imediatamente um médico.

Funcionários que tiveram contato com esses pacientes, principalmente os considerados casos suspeitos ou confirmados, se não apresentam sintoma e tiveram esse contato de forma protegida, eles podem seguir trabalhando normalmente e ter o cuidado de observar o surgimento de sintomas.

A recomendação é: observar se vai apresentar algum sintoma e, se apresentar tosse, febre, dor de garganta, dificuldade de respirar, a indicação é procurar um médico e aí sim o afastamento até que a pessoa tenha o diagnóstico.

Caso o cliente esteja contaminado pelo vírus, como deve ser o procedimento para ele ser liberado do hotel?

O procedimento para ser liberado é determinado pela autoridade sanitária, pelo médico. De uma forma geral a recomendação é que a pessoa se mantenha em domicílio, no quarto, durante 14 dias, sem transitar pelas demais dependências do hotel e por outras áreas. Após esse período de tempo ele está liberado pela autoridade sanitária. Não compete à administração hoteleira e os funcionários definir esse período. Como há recomendação da autoridade sanitária e procedimentos legais que, se necessário, exijam que os pacientes cumpram esse período, então é mais adequado deixar essa definição de liberação ou não do período do cumprimento de manutenção do hotel por isolamento domiciliar pela autoridade sanitária.

Algum órgão pode exigir que um cliente apresente o resultado do exame?

A exigência do resultado do exame ao cliente só pode ser feito, por lei, pela autoridade sanitária. Não é recomendável essa exigência por parte de outros entes e entidades privadas. Como isso diz respeito a um dado individual, a pessoa tem assegurado esse direito do dado individual. Ela não é obrigada a fornecê-lo a ninguém, exceto à autoridade sanitária, porque nesse caso há cobertura legal.

Como deve ser feita o descarte de lixo dos quartos?

O lixo do banheiro pode ter papéis que foram utilizados em contato com secreções ou excretas de pessoas contaminadas. Ele deve ser posteriormente incinerado. A questão maior não é em relação ao risco de contaminação das pessoas que estão retirando esse lixo do quarto, já que esse procedimento deve ser feito com uso de máscara e luvas. O problema é a dispensação final, ao ser levado para o depósito de lixo, e que não é no hotel. Quem vir no depósito de lixo manipular esse material pode ter alguma contaminação, uma vez que o vírus pode permanecer de sete horas a alguns dias vivo. Isso depende de como é feita a logística de coleta e depósito desse lixo.

Qual deve ser o procedimento de limpeza do quarto após a saída do hóspede?

Depende do tipo de material e superfície. No geral, para as roupas de cama, travesseiros e fronhas a lavagem deve ser normal, com água e sabão. A recomendação é que seja feita separadamente dos outros quartos, mas não há necessidade de uso de nenhum outro material específico. Para limpeza dos quartos depende dos pisos, [recomenda-se] uso de álcool e água sanitária na concentração adequada. São suficientes.

Fonte: Agência Brasília