Por Josiane Borges, da Agência Brasília
Fotos: Divulgação
A Concha Acústica de Brasília guarda uma magia. Talvez por conta do céu, do Lago Paranoá e de toda a natureza em volta do monumento que forma o cenário ideal. O fato é que o primeiro palco de Brasília caminha lado a lado com a história da música na capital. Nomes como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Nando Reis, além de bandas como Capital Inicial e Pato Fu, marcaram presença em um dos principais cartões-postais da cidade.
A Agência Brasília conta a história do teatro de arena em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF, que aproveita a sigla em inglês de Throwback Thursday (em tradução livre, quinta-feira do retrocesso) para reviver momentos marcantes do palco que pertence a todas as tribos e gerações.
Assim como os vários monumentos da capital federal, a Concha Acústica foi projetada por Oscar Niemeyer. Em forma de anfiteatro ao ar livre, o palco, em nível inferior ao da plateia, é dotado de concha acústica com 42 metros de comprimento e 5 metros de altura na parte mais elevada, com o objetivo de integrar a arquitetura do projeto com a natureza. O espaço conta também com dependências para bilheteria, camarins, banheiros e estacionamento público. E tem capacidade para receber 5 mil pessoas sentadas.
No cenário musical, a primeira apresentação feita na arena foi do Balé Municipal do Rio de Janeiro, em 1960, na inauguração de Brasília. O maior público já registrado dentro do teatro foi no concerto dos líderes do movimento da Jovem Guarda, em 1967 – Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, que levaram 25 mil pessoas para a Concha.
Contudo, a inauguração oficial só veio em 1969, quando a Terracap doou o terreno para a Fundação Cultural de Brasília, atual Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF). Entre as atrações, logo após a oficialização, foi antológico o show de Roberto Carlos, em 1971. Nos anos 1980 e 1990, outros artistas locais e de renome nacional passaram pelo palco do monumento.
“Qualquer atração que se adapte a um palco pode se apresentar aqui na Concha. Recebemos shows de comédia, apresentações musicais de todos os estilos, orquestra sinfônica, filarmônica, cinema, eventos para crianças. Se falarmos da história, aqui houve shows enormes, porque a Concha foi o primeiro espaço para atrações”, conta o gerente do espaço cultural, Marcelo Gonczarowska.
O gestor destaca também o papel democrático da arena, que atende público e artistas de todos os gostos e bolsos: “O papel da Concha é receber eventos da comunidade, daqueles artistas que precisam de espaços para se apresentar, e priorizamos aqueles que sejam gratuitos para o público. Mas se é um evento pago, tem que ser feita a reversão para a comunidade pelo uso do espaço, e é cobrada uma taxa”.
Palco para os artistas
Entre os mais antigos a se apresentarem no local está o regente da Orquestra Filarmônica de Brasília, Doner Cavalcante. Na década de 1980, ele era um dos principais assessores do maestro Claudio Santoro, da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. “Minha história com a Concha é bem antiga; na década de 1980, realizamos o programa Ouro, com a Orquestra Sinfônica. Eram espetáculos lindíssimos”, relembra.
Anos depois a frente da Orquestra Filarmônica, o maestro passou a realizar apresentações quase que anuais no espaço, com grandes públicos infantis e levando para o espaço a música clássica. “É um ótimo local. Recentemente, em 2022, fizemos quatro festivais e, no ano passado, fizemos o festival sinfônico com três grandes espetáculos, com artistas de renome da cidade. De certa forma, popularizamos a orquestra e a música clássica, mostrando de maneira gratuita o que ela pode ser para todos”, completa Doner Cavalcante.
A banda brasiliense de reggae Jah Live, que nasceu em 1998, já viveu bons momentos no palco da Concha. A primeira apresentação foi em 1999; e, depois disso, as apresentações se tornaram frequentes nas tardes de domingo.
“Na época da seca, tínhamos aquele pôr do sol maravilhoso, e isso ficou marcado na nossa história. É sempre um show lindo, com um visual maravilhoso. A Concha tem esse diferencial de viver uma experiência. Eu já estive como espectador e como músico. E se apresentar aqui é algo incrível; esse formato possibilita uma acústica muito inteligente, porque o som se propaga”, conta o baterista Martin Barreiro. “O palco na parte inferior permite que o público enxergue o show de todos os ângulos.”
Além dos diversos espetáculos abrigados em Brasília, a Concha Acústica está marcada por ser a precursora de um dos maiores eventos musicais do Centro-Oeste. O Porão do Rock deu o seu primeiro sinal de vida no palco da Concha, com uma programação de 14 bandas do DF. A coletânea seguiu por lá em 1999, mas já era grande demais para ficar contida entre os bancos de concreto.
Obras no centro cultural
A Concha Acústica passou por algumas pausas para reformas. O espaço, que não recebia obras havia cerca de 18 anos, sofreu duas intervenções na gestão do governador Ibaneis Rocha. Em 2021, o local teve a estrutura interna totalmente restaurada. Entre os serviços realizados, estão pintura completa, troca de piso e alambrado, instalação de refletores, substituição de vidros, limpeza das lajes, reparos hidráulicos e elétricos, entre outros. O investimento foi de aproximadamente R$ 500 mil.
Agora em fase final de acabamento, a área localizada entre a Concha Acústica e o Museu de Arte de Brasília (MAB) foi equipada com calçadas, estacionamentos, paisagismo e uma praça que interliga os dois centros culturais. Estão sendo feitos serviços de drenagem pluvial, com instalação de grelhas de ferro fundido, construção de 12.398 m² de calçada em concreto e implantação de 3.969 m² de ciclovia. O paisagismo inclui um amplo gramado, com o plantio de cerca de 8,3 mil mudas do Cerrado. Além disso, para o conforto dos visitantes, foram instalados 14 bancos individuais e 29 coletivos, juntamente com placas de sinalização que incluem recursos de linguagem em Braille e piso tátil.
“A Concha Acústica foi devolvida à comunidade após [ter ficado] muitos anos fechada, e está junto ao MAB pelo aspecto interdisciplinar. Podemos fazer exibição de filmes, shows e outros eventos. É um espaço convidativo em um setor que tem uma destinação cultural. A reforma traz a verdadeira vocação do espaço”, conclui o subsecretário do Patrimônio Cultural, Felipe Ramón.